domingo, 26 de novembro de 2017

Carta à determinação

Durante muito tempo - a vida toda, na verdade – fui tida como uma pessoa determinada: sempre conseguia o que realmente queria, mesmo se isso custasse minha saúde mental (caso óbvio do cursinho).  Não sei se o nome disso é realmente determinação ou se foi um instinto de sobrevivência não depressiva, mas sei que, na maioria das vezes, eu consegui o que mais quis. Ontem mesmo ficou evidente isso: consegui algo que até mesmo eu duvidei de mim. Por isso, depois de passar uma tarde de muitos sentimentos intensos, te escrevo hoje, determinação.

Correr atrás de algo foi algo muito instintivo pra mim: sempre soube muito claro que nada cai do céu em minhas mãos; por isso, sempre me esforcei para conseguir ser o meu melhor. No entanto, os muitos meses de férias tem me feito passar por longas horas comigo mesma, mergulhada numa autorreflexão, que me fez perceber algo, no mínimo, doloroso: para que você existia, querida determinação, precisa, necessariamente, existir motivação. Parece meio óbvio e simples, mas não é. Nada do que tentei até hoje foi o meu máximo caso eu não tivesse uma real motivação, como foi o caso de ontem: corri por um propósito (chegar ao fim), mas sem uma motivação. O resultado foi o esperado: frustação.

Claro que nem sempre as coisas sem motivação não dão em coisas boas, mas existe também o fator sorte. E isso não é só em uma corrida ou em uma vaga em uma universidade: percebo, hoje mais claramente do que outros dias, que você, amada determinação, está também nas relações interpessoais. Talvez até mesmo você se assuste, mas existe determinação maior do que se deixar amar ou ser amado? E isso está muito além de pura sorte. É exaustivo estar determinado a deixar o outro entrar na própria vida e, principalmente, a não querer que o outro se torne algo que não é (o que tornaria esse processo mais fácil, mas menos verdadeiro).

E, para “aguentar” a companhia do outro, exige-se MUITO a sua presença, determinação. É difícil conquistar e manter na nossa vida qualquer pessoa, seja ela um familiar, um amigo ou um amor. Nisso, eu acredito que o amor seja a motivação principal: qual seria o motivo se de destroçar e de se machucar apenas para que alguém permaneça na nossa vida? Porque sim, apesar de sabermos que algumas coisas são complemente loucas e fora do comum, nós fazemos de tudo para que as coisas deem certo – e isso é puramente determinação.

Que fique bem claro, querida amiga, que ser determinado tem limites até mesmo físicos. Apesar de fazermos de tudo para que tudo dê certo e fique em paz, nem sempre é possível que isso aconteça. Então, outra coisa que vive colada em você é a cautela, mesmo que você a tente sufocar o tempo todo. Sei muito bem como você pode ser intensa e até libertina, fazendo com que o chão se perca e o céu se torne um limite muito pequeno, mas sei também como até você entende que um pouco de cautela se faz necessário.


É por isso, amiga determinação, que eu acordo todos os dias traçando planos para a minha vida: não que não vão surgir curvas no caminho, mas estarei o mais bem preparada para as que surgirem. Aprendi com uma pessoa que tudo se deve fazer com a sua máxima excelência e passei a desejar isso para tudo na minha vida. E, apesar de ter deixado a cautela e o medo (sim, o infeliz do medo) me guiar tanto nos últimos tempos, não consigo me desvencilhar desse sentimento poderoso que você me proporciona: na sua companhia, me sinto uma heroína, que posso fazer o que quiser. E assim que quero me sentir todos os dias, como se se o céu fosse um limite pequeno demais para tudo de grande que posso fazer.
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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Carta ao verdadeiro amor

Talvez eu esteja falando muito de amor; a primavera incita isso nos românticos natos, como eu. E, talvez, depois de tanto conversar com uma amiga que roubou um belo lugar no camarote da vida, eu tenha chegado a alguma conclusão sobre você, verdadeiro amor.

Antes de qualquer coisa, querido verdadeiro amor, quero declarar meu apreço profundo por você: não sei como um sentimento tão puro possa ser tão complexo e possa preencher tanto espaço dentro do nosso vazio existencial. E como você, apesar de todos os pesares, está aqui o tempo todo... Venho hoje então falar de duas formas suas que tem muito me intrigado: o verdadeiro amor próprio e o verdadeiro amor romântico.

Não sei o porquê de ser de uma geração de pessoas tão obcecadas com o amor que vem do outro: o primeiro amor, o mais honesto e puro, que podemos ter é o nosso próprio. Eu percebi que não me amava tanto quando não sabia mais quem eu era: era um tanto quanto desesperador olhar no espelho e não me conhecer tão bem (e olha que passo, literalmente, 24 horas por dia comigo). Até que, um belo dia, comecei a tirar um tempo meu pra fazer coisas pra mim. Ai, meu querido amigo, eu vi como você é de verdade: é aquela presença que, no início é tímida, mas logo conquista todo o espaço; é simples e quente; e, acima de tudo, diz tudo sobre quem eu sou. Confesso que colocar o meu blog no ar foi um gesto tão amoroso da minha parte, por simplesmente compartilhar com o mundo (ou com ninguém, como achei por um tempo) algo que faço simplesmente por fazer, sem motivação ou cobrança: por puro amor verdadeiro.

Essa história de amor parece tão clichê que, muitas vezes, optamos pode deixar ela de lado. Em um tempo que nada parece valer a pena, já que tudo tem data de expirar, parece que se amar ficou cafona. Se sim, quero ser muito cafona sempre. E tudo isso, principalmente, porque é necessário se amar antes de deixar que outra pessoa te ame. Sim, para o outro te amar, ele precisa ter certeza que ama alguém por inteiro; e só se é por inteiro quando todos os pedaços quebrados, todas as emendas tortas estão preenchidas com o mais belo e puro amor próprio. Piegas? Bastante. Mas simplesmente maravilhoso.

Ai entra aquela história de amar alguém. Poxa, como é difícil amar alguém: se já é difícil nos amar, aceitando todos nossos acertos e erros, imagina o outro, que não podemos fazer nada para mudar? E é ai que você se torna protagonista, amor verdadeiro: como amar alguém, acima de tudo? Pra mim, quando nós nos amamos por completo, nós paramos de aceitar os meios amores e começamos a definir o que realmente queremos, para atrair isso; e isso vai até que, um belo dia, nos esbarramos em alguém que valha a pena compartilhar a vida, que te entenda, saiba respeitar o seu limite, te olhe com olhos bondosos, tenha sua própria existência e compartilhe isso com você todos os dias, pelos gestos mais simples. E isso tudo é amar o outro também, não cobrando nada ou exigindo e só existindo. Claro que isso leva algum tempo: nossa vida não é como os filmes, em que tudo acontece em 2 horas – vai do inferno ao céu e tudo fecha com um final feliz. As coisas levam tempo e coisas como você, querido amigo, valem a pena esperar.

Apesar de tudo isso, sei como é difícil permitir você aqui; como já disse para o seu primo torto, meio amor: todos nós, seres humanos, já esbarramos por coisas que estavam mascaradas de coisas verdadeiras, mas que eram, na verdade, uma bela de uma emboscada. E viver esses momentos de decepção faz com que criemos barreiras que parecem instransponíveis, mas que só parecem. Eu achei uma saída até bastante útil pra isso: a liberdade. Como diria o meu filósofo predileto, Sartre, o ser humano é essencialmente livre. Imagine só, querido amor verdadeiro, o que é isso: tirando a parte problematizadora disso, é a liberdade que nos torna quem somos e não existe nada mais livre, para mim, do que o poder de amar. E esses poder, assim como diversas outras coisas, é exercitável: ninguém nasce amando o mundo ou a si mesmo; é necessário um esforço para exercer a liberdade de amar. As crianças, seres mais puros e livres, exercem essa liberdade com uma maestria inspiradora: amam sem pudor.

Por isso, querido amor verdadeiro, te escrevo hoje. Às vezes parece que nos esquecemos de você, mas estou convicta de que isso não passa de uma aparência. Sei que é necessário, acima de tudo, que nos amemos como nunca antes; e, com isso, nós deixamos um espaço pra alguém que queira acrescentar algo, que queira, de fato, dividir a vida. E tudo isso, todo esse amor, acontece por um único motivo: porque sim. Não existe explicação, mas tudo faz sentido. Na minha humilde opinião, não somos seres que nascemos para viver eternamente na solidão e ter com quem dividir a vida plenamente é uma dádiva que só a liberdade pode trazer. Hoje, mais do que nunca, quero me tornar de novo uma criança: quero amar – me amar, principalmente - sem freios, sem pudores, sem medos e, acima de tudo, livre.


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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Carta aos meios amores

Agorinha conversava com uma amiga sobre relacionamentos frustrados. São sempre paixões avassaladoras (ou não), que nos fazem mudar algo em nós mesmos e que acabam. São coisas pelas metades quando queremos coisas inteiras. E, apesar de parecer nos quebrar, é com elas que aprendemos e crescemos. Por isso, escrevo a vocês, queridos meios amores, para agradecer todo o crescimento, apesar de toda a dor.

Nos dias de hoje, como diria o querido Bauman (que, me desculpem, mas não é um dos meus autores preferidos), vivemos em uma sociedade com relações liquidas: tudo é muito etéreo, quase uma nuvem que logo se desfaz. E sim, me meti em situações assim. Foi nesse momento que me vi com vocês, meios amores: relações pela metade, quando tudo o que eu queria e precisava era de coisas inteiras. É aquele abismo da indecisão: você vê naquela situação uma potencial salvação para sua vida, mas, ao mesmo tempo, é um caos certo. São vocês, amores pela metade, que nos quebram e nos fazem colar os pedaços que antes não existiam.

E eu, como romântica incorrigível (apesar de algumas atitudes parecerem provar o contrário, ninguém sabe o conto de fadas que passa pela minha cabeça sempre), me quebrei algumas vezes; uma muito pior do que as outras, mas quebrei. E o processo de me reconstruir foi encontrando novos meios amores que me quebraram e que, ao mesmo tempo, me fizeram colar outras partes. É tudo muito estranho, confuso; credito essa loucura a minha amada maturidade.

O que eu pretendo, caros amores quebrados, é dizer que, antes de tudo, eu entendo vocês. Com certeza, fui meio amor de alguém nessa vida (e talvez nem saiba disso) e, por isso, precisei passar por um processo de digerir vocês: todas essas histórias foram uma carga muito maior do que eu pensei que poderia suportar. Foram noites e noites tentando entender o porquê de sofrer por algo que apenas vem para nos agregar; e ai que entendi que vocês também estão aqui para ajudar: só assim, passando por essas situações pela metade, que nós, seres humanos, percebemos que não devemos aceitar qualquer coisa, só pelo medo da solidão. Estar só não é, nem de longe, a pior coisa que podemos passar: se sentir só em uma relação é muito pior (palavras de quem já esteve ai).

O ser humano, por natureza, sente a necessidade de alguém; no sentido biológico, é necessário perpetuar a espécie. Mas, num sentindo mais profundo, nós sentimos uma vontade inerente de dividir os momentos com alguém (sim, essa é uma construação social, mas não venho aqui problematizar ou dizer que é errado: é apenas algo que existe de fato). Nesse momento, nessa necessidade de compartilhar a vida, é que aceitei um amor pela metade; nossa, como é difícil desapegar disso.  E foi nesse momento que me apareceu um bom e velho amigo: o tempo.

Queridos amores pela metade: o tempo nos destrói e nos constrói constantemente. Só assim consigo olhar hoje para o passado e agradecer todos vocês, meios amores. O tempo é como um médico em um pronto socorro: estanca o ferimento, sutura e prescreve medicamentos, sem se importar com a cicatriz. E o mais trágico de toda essa história é que vocês são como um acidente que causa todo esse ferimento, mas que não é possível prever tudo isso antes de acontecer. Por isso, apesar de todos os pesares, as vezes é necessário passar por esses erros para evitar um erro muito maior: ignorar um amor inteiro, que vem para completar o nosso próprio inteiro.

Quero deixar bem claro que não gosto particularmente de vocês, afinal me passam a mesma sensação de estar perto de um furação: uma ventania, uma confusão e uma destruição. Mas, como toda boa tempestade, existe a calmaria e é a isso que estou apegada. Afinal, como a romântica desmedida, ainda acredito muito em dividir sua felicidade (e talvez tristeza) com outro alguém. Porque, apesar de não acreditar no "Felizes para sempre", quero sim uma parceria para a eternidade.

E aqui me despeço, queridos meios amores, pela última vez. Todas as vezes que vocês aconteceram, levaram um pedaço meu, mas isso me ajudou a ser o que sou hoje; por isso, meu mais sincero muito obrigada. E, por mim, espero que o universo me ouça: continue me trazendo amores, mas espero ansiosamente um amor por inteiro.
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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Carta às amarras

Durante muito tempo, talvez a minha vida toda, eu estive amarrada: amarrada a padrões que eu não podia (ou queria) alcançar, a crenças que não me serviam, a modelos que não eram os melhores pra mim. Isso tudo até ontem. Sim, ontem. E, apesar de saber muito bem que poderia estar escrevendo para a liberdade (coisa que ainda posso fazer no futuro), hoje escrevo uma carta de despedida para vocês, amarras.

Aos que não me conhecem pessoalmente podem até estranhar, mas os mais próximos entenderam de primeira: eu vivi amarrada a um padrão que não conseguiria, nem mesmo com os esforços do falecido Pitanguy, chegar. Foram vocês, amarras, que me mantiveram por 25 anos presa a uma cicatriz (que sim, ocupa metade do meu rosto e não passa despercebida). Mas, pasmem ou não, só ontem que eu percebi que os meus esforços para me igualar ao padrão “revista Caras” eram em vão; o que é certo e eu não fazia é simplesmente assumir quem eu sou para mim e não me importar com o outro. E por isso decidi me desapegar de tudo aquilo que me prende.

Claro que isso foi só o estopim de um péssimo relacionamento com o espelho (e, às vezes, com o olhar alheio). Na realidade, o que sempre me irritou foi deixar que vocês, amarras, conseguissem mandar em mim como uma marionete. Não foram poucas vezes que me deixei abater por um olhar alheio ou um comentário desagradável e estar amarrada me empurrava ainda mais para o fundo do poço. É muito importante e necessário entender que existe sim uma consciência social, um padrão, mas que ele só deve ser aceito por quem quer e gosta disso; o que importa nessa vida é apenas ser feliz.

Amarras, não se enganem pensando que vocês me prenderam apenas nisso: tirando todas as consequências como a autoestima baixa e o medo de relacionamentos, você ainda mudou a forma de eu lidar comigo mesma; e não foi em um bom sentido. Pensando na vida (coisa que eu faço com frequência pela madrugada), percebo que fui deixando de lado aquela menina encantadora, de opinião forte e gostos peculiares porque existia algo (imaginário, obviamente) que me impedia de ousar, de ter orgulho das minhas ações e de quem eu sou. Confesso que perdi muito tempo tentando achar a causa disso tudo e esqueci que a causa pouco importa nesse caso: o importante era corrigir, antes que fosse tarde demais.

Me lembro ainda de todas as vezes que me deixei ser esse fantoche, quase inanimado, pelo simples medo de quebrar a cara. Mas, perai, quem nunca quebrou a cara? Hoje eu percebo tão claramente como fui tola em me apoiar em vocês, amarras. Claro que é muito mais confortável me apoiar em decisões que eu não preciso tomar ou não preciso encarar consequências, mas não existe nada melhor do que se reconhecer. Não vou mentir que as últimas 24 horas tem sido um pouco difíceis, já que encarar eu mesma, nua e crua, evidencia muita coisa que me desagrada; ainda estou presa a algumas coisas que, com um pouco de esforço, me libertarei.

Por isso, queridas amigas, venho aqui me despedir. Me redescobri como uma pessoa que pode ter movimentos próprios e pode se orgulhar do que pensa e que, acima de tudo isso, posso abraçar a minha cicatriz como algo que sou. Não ter pena de mim mesma ou ficar pensando no que seria diferente caso nunca tivesse tido meu hemangioma é o mesmo que respirar o ar de uma praia à noite: revigorante. Agora, vou gastar minha energia me amando e amando aqueles que me aceitam como eu sou (mesmo estando tão fora desse padrãozinho). Assim, obrigada, amarras, e até nunca mais.
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domingo, 13 de agosto de 2017

Carta à inveja

Acho muito engraçado – até mesmo medonho – como não podemos falar de coisas negativas, sejam elas sentimentos ou não. Parece que ao afirmar algum tipo de característica negativa, estamos nos rebaixando a ela. Só que, o que ninguém pensa, estamos permeados de “defeitos”, de características pouco desejáveis, mas que estão ali presentes. E é, depois de refletir muito sobre isso, que eu resolvi ter escrever, inveja.

Ao meu redor, o tempo todo, há a sua presença. Não posso negar que ela existe em todos, em graus diferentes, mas cada um aprende a lidar com ela de uma forma. Eu mesma percebo sua presença constantemente, sentimento amargurado, já que sua existência se dá pela inexistência, na minha vida, de algo: ocorre mais ou menos por alguém ter algo que eu também quero ter, mas ainda não possuo ainda (evidenciando que não são apenas coisas materiais). E durante toda minha vida ouvi a frase: “tô com inveja de você, mas é inveja boa”. Por isso, refleti o suficiente sobre isso para constatar que não existe sua presença de uma forma agradável; na verdade, essa falsa bondade ou tem a função de deixar claro que a pessoa não quer tirar o que é da outra e sim apenas tê-la também ou é, sobretudo, uma forma de amenizar a nocividade desse sentimento.

Já tive o convívio diário permeado de uma inveja brutal - mas acredito que é uma situação bem comum para todos, em ambientes distintos -: sempre existia uma competição sem fim e, com ela, aquela comparação básica entre os que ali estavam, que é o início da inveja. O cursinho para medicina foi um aprendizado imenso nesse quesito, porque precisei aprender a lidar com “olhos gordos” alheios (em diversos quesitos – deixando bem claro que não acredito ser melhor do que ninguém em uma sala de aula) e fui forçada a lidar com a inveja que tenho de outras pessoas.  Mesmo pessoas próximas, até mesmo amigas, sentem aquela inveja – que pode ser um pingo ou um monstro avassalador – das conquistas alheias e não conseguem esconder o quão estão frustrados por não ter o mesmo êxito naquele momento.

Como sou humana – e por isso falha -, tenho inveja de muitas pessoas. Mesmo sabendo que cada pessoa é objeto de cobiça do outro em qualquer aspecto que seja, alguma vez na vida cada uma delas será a protagonista da inveja e coisas e aí começa a parte mais difícil de conviver com sua presença, querida. Como já disse, existe uma falsa ideia de proibição da sua existência, ou seja, basicamente não posso admitir que eu tenho, frequentemente, sentimentos nocivos em relação ao outro, e isso é ainda mais cruel do que o fato de você ser real. E o que podemos fazer de pior para nós mesmos é escondermos algo, mascarar uma característica própria, para simplesmente fazer o outro se sentir bem. Mas o que esquecemos é que, no fim do dia, ao deitarmos a cabeça no travesseiro, estamos frente a frente com um único ser: nós mesmos. E é aí que o “bicho pega”.

Não sei se foram minhas muitas horas sentadas no sofá da terapia ou se foram as extensas conversas que tive com pessoas muito diferentes, mas sei que cheguei a um acordo comigo mesma quanto a sua presença, sentimento amargo: não adianta lutar contra mim, mas adianta correr atrás dos meus objetivos.  Talvez eu esteja sendo utópica demais, mas é muito fácil concluir que não tiramos nada de proveitoso apenas da inveja pura. É necessário, além de admitir a presença de sentimentos ruins, transformarmos essa “massa” de energia negra em luz, já que essa massa escura suga todas as nossas qualidades e nos transforma em puro ódio e, desculpe a rispidez, idiotice.

Por isso, chacoalhei tudo e joguei para o alto aquela inveja inútil, assumindo que sim sou humana e sou falha e que tenho uma urgência em parar de falhar com meus próprios sentimentos. Por isso, inveja, peço algo estranho: permaneça sempre aqui, para me mostrar até onde eu posso ir, mas pare de me menosprezar. O céu é o meu limite e, para chegar lá, não quero nuvens negras no caminho e sim um céu limpo como é após uma tempestade.


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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Carta ao perdão

Um dia desses estava conversando com uma amiga (que conheço há pouco tempo, mas que não parece tão pouco tempo assim) e ela me disse que tem uma urgência em perdoar. Eu, como a racional que sou, dediquei parte dos meus dias pensando sobre o que é essa “arte” e tirei algumas conclusões – que talvez sejam muito precipitadas. Por isso, nessa noite de domingo, te escrevo, curador de mágoas.

Confesso que estou com as minhas mãos geladas, porque é muito difícil te escrever. Na verdade, durante um bom tempo foi difícil te entender. As mágoas que me feriram como um ferro quente pareciam não ter cura; mais tarde, percebi que não era uma simples cura, fechando a ferida, o que era necessário, e sim a sua presença na minha vida, perdão.  O próprio cristianismo vê perdão como algo divino e sagrado, mas as longas feridas impediram que fosse fácil.

Sem mais delongas sobre mim, quero te falar, querido remédio das almas, que eu entendi duas presenças tão distintas suas no meu dia a dia: em relação ao outro e em relação a mim mesma. Como sempre, ficou muito evidente que lidar com o outro é muito mais fácil do que lidar consigo mesmo. As feridas que os outros provocam e que não são nossa responsabilidade (gosto de deixar evidente que somos nós os mediadores da nossa vida: os outros nos machucam, na maioria das vezes, até quando permitimos) são mais fáceis de perdoar e de fechar, mesmo que talvez demorem anos e pareçam doer demais. O outro, apesar de tudo, não é uma extensão real do que somos.

Por isso, mesmo sendo difícil, consegui entender o quão fundamental era sua presença, perdão, na minha vida e consegui desapegar de mágoas que achei que fossem impossíveis. Sim, algumas feridas foram feitas e permitidas por mim sem que eu percebesse o quão fundo era o corte e isso foi sufocante de entender. Não existe uma formula mágica para esse processo, mas existe uma verdade universal: perdoar o outro está APENAS dentro de quem perdoa. E é nesse ponto que eu escrevo para o perdão mais difícil: o que temos que fazer com nós mesmos.

Como se fosse um pacto, somos obrigados a deixar a sua presença entrar em nossa vida, perdão.  Eu mesma demorei anos, décadas, pra entender que perdoar o outro significava primeiro se perdoar. Muitas vezes, nós, seres humanos, esquecemos o quão falho nós somos e que iremos errar, querendo ou não. Não que isso seja um propósito de vida de alguém (sem vitimização), mas isso talvez fuja do nosso controle. O convívio em sociedade é uma dos principais “vilões”: quando tomamos atitudes, as consequências ocorreram de uma forma ou de outra. No fim das contas, por mais cruel que possa parecer, há uma grande chance de alguém sair magoado dessa história, seja o próprio ator ou o outro, e ai precisamos urgentemente do curador de almas para nos fazer entender que tudo bem falhar e que as feridas serão fechadas.

Perdoar é uma tarefa árdua e, na maioria das vezes, tem o caminho mais difícil e dolorido do que a mágoa que precisa ser superada. Perdi as vezes que chorei no travesseiro sem entender que a solução para aquele problema estava em mim: eu precisava perdoar, desapegar daquele sentimento que me causava mágoa e ir ao encontro, de braços abertos, a minha felicidade fundamental. Não é fácil entender quando é necessário perdoar nem realizar o ato, de fato; mas é indispensável.


Por isso, perdão, te escrevo hoje. Foram tantos sentimentos que já receberam cartas por eu não entender o que são. Mas você, ao contrário de tantos, foi um dos poucos sortudos que eu pude compreender - dentro da pequeneza humana que tenho... É impossível entender por completo o que parece inatingível algumas vezes. - Não te escrevo, contudo, em vão: tenho uma necessidade, uma sede, por mais de você em mim. Muitas noites, ao deitar minha cabeça no travesseiro, fica evidente que ainda falta muito de você em mim. Aprender a me perdoar é um processo continuo, árduo e, provavelmente, mais humano que eu posso ter. Anseio pelo dia que conseguirei dormir e acordar sentindo a plenitude de você em mim. Acredito que, só assim, é atingida a tão ansiada felicidade.
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domingo, 16 de julho de 2017

Carta às perdas

Em todo tempo que eu já vivi, aprendi que com certeza vamos perder algo, seja um brinco, um pé de meia ou até mesmo, nos casos mais graves, uma pessoa. Estava a pouco pensando em como as perdas também se relacionam as nossas perdas internas, quando nos tornamos “cegos em um tiroteio” dentro do nosso próprio labirinto interior. Isso tudo me faz lembrar o meu filme preferido, Interestelar, que possui uma das frases mais marcantes para mim (claramente não vou reproduzir, porque tenho memória de galinha): para conseguirmos algo, alguma coisa tem que ser dada em troca; e é ai que entra esse fato que acontece com todos, que são as perdas. E por isso que eu escrevo hoje a vocês, todas as minhas perdas.

Durante a vida, foi um movimento muito comum acordar me sentindo derrotada: vocês, perdas, foram responsáveis por tornar meus dias muito amargos, até que eu conseguisse entender e aceitar (um pouco só) que a sua presença é inevitável. A adolescência foi muito difícil, porque eu me entregava às derrotas antes mesmo de tentar e, por isso, perdi demais. Foram alguns bons anos apanhando na cara, daqueles tapas que deixam as marcas dos cinco dedos, para entender que não se pode ter tudo nessa vida. E isso não é a derrota antecipada; na verdade, tem sido um incentivo pra tentar cada vez mais.

Só que, o que ninguém me contou, é que eu poderia me perder dentro de mim. Aí, minhas queridas perdas, foi quando eu me deparei em frente ao espelho sem conhecer quem era aquela pessoa. Lembro-me bem de um treinamento que fiz que me perguntaram “quem é você?” e eu não sabia responder: havia encontrado-lhes e feito em mim uma casa (bem sólida, por acaso) para vocês. E aí seguiu-se um longo processo. Mas não é disso que eu vim falar hoje.

Hoje, sentada nessa cadeira, num final de domingo, eu penso no que ainda vou perder. Loucura, talvez. Outros diriam que estou antecipando sofrimento (e, de certo modo, estou mesmo). Mas a experiência de perder tanto, tantas vezes, de modo tão dolorido, me fizeram ver que, de uma forma ou de outra, estamos perdendo. O ato de realizar escolhas é basicamente escolher o que perder. Sim, queridas perdas, estou lidando com a minha responsabilidade como um ser livre (citando meu ídolo Sartre) de uma forma bem negativa hoje. Quando escolho algo, estou deixando outra parte de lado, perdendo o desconhecido.

No fundo, vou continuar perdendo brincos (até mesmo porque não os uso), meias e pessoas, independente da minha vontade. No caso dos materiais, sabe-se lá o que acontece; mas as pessoas se vão por desencontros das estradas da vida de cada um. E muito me dói escrever a vocês hoje, porque descobri que às vezes para não perder os outros, é necessário se perder; e como possuo o poder da escolha, escolhi não me perder mais tão facilmente.

Por isso, queridas perdas, venho por aqui dizer-lhes que estou ciente da sua existência e não sei se um dia vou aprender a lidar com tudo isso plenamente. Em uma época de tantas mudanças, como a que eu passo agora, é natural que venha a tona tudo o que nós, seres humanos, podemos perder. E é difícil deitar a cabeça no travesseiro e pesar as coisas, até mesmo porque não sabemos do futuro para tomar nossas decisões. E, apesar de meu olhar hoje estar pessimista, me reconforta saber que de qualquer forma a presença de vocês, odiosas perdas, está constantemente comigo (e com qualquer outro que seja ousado para tentar viver plenamente).

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domingo, 7 de maio de 2017

Carta à autossabotagem

Há muito tempo eu percebo a sua presença por aqui: o ato de autossabotar é realizado, por mim, há tantos anos que muitas vezes nem percebo que estou o fazendo (de novo). E, mesmo sabendo de quão danoso é, eu continuo deixando você entrar na minha vida e fazer aquele estrago monumental. Cansada dessa situação, decidi escrever-te, autossabotagem.

Desde muito nova, arrumo desculpas ou para não assumir falhas (que são comuns na vida de um ser humano) ou para simplesmente não tentar algo que pareça inalcançável. Lembro-me, quando criança, de conseguir inúmeros atestados médicos com meus cirurgiões para fugir da aula de educação física, já que eu, como era a mais alta e desengonçada da turma, tinha medo de parecer uma palhaça durante as atividades; mal sabia eu que, depois de mais velha, veria como fui boba em me autossabotar e me privar de algo. Agora, no entanto, as coisas estão um pouco mais diferentes.

A vida adulta é cheia de prazeres e desprazeres. Um dos maiores infortúnios que temos é que nada é mais como no colégio: se você sair mal em um prova, durante os anos de educação básica, você terá outras oportunidades para melhorar; na vida adulta, as coisas são um pouco diferentes, já que, na maioria das vezes, as oportunidades aparecem como um bilhete único e com data de validade imediata. Assim, começamos ou a rasgar o bilhete ou a perder a viagem pelo simples medo ou insegurança do que seria aquela viagem. E ai, nada querida autossabotagem, que eu achei uma forma racional de tentar te entender e explicar: como as coisas se tornam mais reais, concretas e definitivas, autossabotar é a forma mais simples de desistir antes mesmo de tentar e, por isso, não enfrentar a dura mão do julgamento (seja ele social ou não). Eu, que convivo com faixas etárias um pouco distintas, percebo que sua presença é comum em todas as etapas da vida, porém, com o passar do tempo, você é a justificativa – errada, pra deixar claro – de projetos falhos e tantas outras coisas que simplesmente não dão certo.

Outro ponto que sempre percebi sua presença, autossabotagem, foi na minha relação comigo mesma, também conhecida como autoestima. Depois de muitos anos de terapia (reforço que, apesar da pouca idade em termos numéricos, passei por experiências desagradáveis que me forçaram a abrir meu coração para outra pessoa – e sim, esse foi um dos maiores acertos de todos os tempos), percebo quantas vezes me coloquei para baixo e me autossabotei. Seria impossível contar nos dedos a quantidade de vezes que preferi desistir ao invés de “dar a cara a tapa”, a ultrapassar essa barreira totalmente social e ilógica. Sim, durante anos demais me achei a pior em tudo no meu grupo de amigos: a mais feia, a mais chata, a mais burra, a menos promissora; mas, o que ninguém me contava nessa época era que esse sentimento era bastante recorrente em todos, ou seja, todos se autossabotavam e não admitiam isso para os outros (cada um em seu grau, obviamente).

Até mesmo no assunto dos relacionamentos interpessoais é perceptível sua presença. Neles, a autossabotagem acontece indiscriminadamente, já que, por uma necessidade de aprovação alheia, preferimos nos prejudicar do que tentar, de alguma forma, equilibrar a situação. Nas relações afetivas, esse quadro pode se agravar até tornar-se irreversível: é muito difícil o convívio com o outro e para evitar determinados conflitos (seja ele com o outro ou consigo mesmo – vale lembrar que o medo da solidão leva a atitudes irracionais e absurdas) é mais fácil escolher o caminho traçado por você, velho conhecido.

Por isso, sem mais delongas, venho até você, autossabotagem, dizer algo muito importante: creio que sempre estará por aqui, pronta para me fazer desistir ou me colocar no chão, já que sua existência depende disso; mas cheguei à conclusão de que preciso dar um basta. Apesar de ser inerente ao ser humano se autossabotar, eu tenho estudado formas e tenho tentado, ao máximo, me desvencilhar dessa vida conduzida por a sensação incapacitante que você sempre me deu. Decidi, então, tomar uma atitude drástica: vou agarrar, com todas as minhas forças, todos os bilhetes de viagens extraordinárias que a vida me der. O erro, as falhas e os infortúnios são, antes de mais nada, essenciais para o crescimento pessoal e não será você que me impedirá de conhecer tudo o que a vida tiver para me oferecer. Nós, seres humanos, somos os principais donos do nosso destino e eu, decidida como estou, não deixarei jogado o meu futuro para você mais.
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quinta-feira, 4 de maio de 2017

Carta ao (re)começo

(Nota "mental" da autora: Essa é uma tentativa de recomeço. Estou tentando escrever há uma semana e nada sai de mim: não sei se falta criatividade ou se me tornei rígida demais. Só sei que preciso continuar fazendo aquilo que me faz bem.)

Existe uma falsa ideia, extremamente enraizada na consciência coletiva, de que é proibido falhar ou, pior ainda, é proibido falhar e recomeçar. Vivi em um constante medo da falha e falhei por isso. Veio daí uma parte muito difícil: o recomeço. Querido amigo, não sei se você é tão triste e desesperador como é necessário, mas venho escrever-te para delinear a sua presença, um novo começo.

Hoje mesmo estou passando por um processo de recomeço muito imediatista: recomecei a escrever textos inacabados, que não saíram do segundo parágrafo (obviamente a ideia não foi tão bem sucedida). Em outra perspectiva, em longo prazo, tento recomeçar minha vida acadêmica, passando de quase jornalista frustrada para uma médica (espero que menos frustrada), mas esse continua sendo um processo de um novo começo bem doloroso (afinal das contas, continuo tentando entrar em faculdades públicas). E percebi, depois de muito observar a minha volta, que esse movimento é comum à todos, em todas as idades e etapas da vida.

Eu, em minhas longas análises, identifiquei dois tipos básicos da sua presença, novo começo. Existem os recomeços involuntários, como é o caso dos nosso dias recomeçam que todo dia: basta colocar a cabeça no travesseiro para ter aquela ideia de que estamos novos em folha. Mas, como tudo que é independente da nossa vontade, não nos resta nada além de aceitar e tentar deixar essas experiências o mais agradáveis possível. O “xis” da questão é quando a sua tão requisitada presença ocorre de forma voluntária. As vezes, funcionamos como um quebra cabeças: existe um encaixe perfeito que combina conosco; no entanto, frequentemente, tentamos nos encaixar em um lugar que não nos cabe e, por isso, precisamos recomeçar. É mais ou menos como se fossemos um texto ruim, que vamos apagando e refazendo até ficar satisfatório.

Um grande amigo, daqueles que mora há quase três mil quilômetros e que sabe tudo da minha vida, me disse há poucos dias que sempre é possível recomeçar, basta querermos. Eu, que estava em um surto por causa de escolhas que fiz, tive que respirar fundo para entender a sua presença, recomeço, como necessária e me apoiar nisso. São nas horas difíceis que percebemos que as escolhas são necessárias para aprimorar atitudes e que recomeçar, nesse processo todo, é fundamental.

Os relacionamentos também frequentemente necessitam de um botão de “restart” e isso acontece em todo tipo de relação, seja ela de amizade, amorosa ou, até mesmo, em família. Ao longo de experiências, no mínimo, desagradáveis, pude ter a certeza que a sua presença era necessária por mudanças de cada um. Às vezes, são essenciais aquelas desestruturações radicais para que uma revolução aconteça e mude a situação – sempre para melhor, já que se a mudança foi para pior, é necessário a habilidade de recomeçar o que foi deixado para traz.

Assim, querido novo começo, quero sempre o seu ombro amigo como apoio nos momentos difíceis. Grande parte do meu amadurecimento como pessoa passou pelo estágio de que recomeços não são sinais de que não somos competentes, mas são formas de nos mostrar o quão fortes somos para começar tudo de novo, do zero. E, mesmo existindo aquele medo paralisante, é muito gratificante entender que funcionamos como uma massinha de modelar: adequamos, rapidamente, a situação e logo, o que era uma massa sem cor e forma, nos tornamos em uma bela escultura – que pode, de novo, ser modelada e remodelada, até achar o formato desejado.



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domingo, 23 de abril de 2017

Carta ao medo

Conversava agora pouco com uma grande amiga sobre relacionamentos. Ela, apesar de mais jovem do que eu, depositou em minhas mãos uma sabedoria infinita: a falha dos relacionamentos atuais está no medo. Ao refletir sobre isso, após um longo banho quente, pude concluir que é realmente isso que impede grande parte dos relacionamentos acontecerem e, por isso, resolvi escrever a você, medo.

Ao contrário da insegurança, que apenas paralisa, o medo nos transforma. É justamente você que me fez mudar de planos algumas vezes e que, na maioria dessas vezes, seriam ideias geniais. Nos relacionamentos, como já disse, é você que faz as coisas serem superficialmente chatas, insignificantes e sem sentido. Como hiperbólica que sou, não sei lidar com o medo deixando as coisas muito rasas.

Mas não vim falar de relacionamentos (esse assunto é para outra hora e difícil demais para falar) e sim do que é o medo frente ao que vivemos. Já disse para alguns conhecidos seus como sou de uma geração de frustrados. O que não abordei ainda é o fato de que é você um dos principais responsáveis por essa frustração: ao vermos uma geração passada que pouco tinha, mas que muito conseguiu, ficamos aflitos com o fato de que temos as coisas de modo muito mais fácil. Dessa forma, muitas vezes não agimos por medo de não conseguirmos atingir nada, mesmo com os meios facilitados. E, a partir daí, entramos em mais um dos infinitos ciclos viciosos, porque temos medo de não conquistamos nada e, ao mesmo tempo, temos medo de agir – esse, na verdade, é um ciclo vicioso bem inerte.

Eu mesma me apoio confortavelmente em seus braços. São raras as vezes em que eu coloco minha cara a tapa e te escondo, medo, em uma caixinha e consigo seguir em frente: é mais fácil ter o apoio daquilo que é tão familiar do que nos arriscarmos no desconhecido. Mas, para deixar bem claro, não é de facilidade que vivemos e sim de conquistas, sendo que você, velho conhecido, tem nos direcionado ao fácil e não à conquista, ao sabor da vitória após tentativas.

Por isso, ao perceber sua presença constante na vida de todos a minha volta (inclusive na minha – e de forma bem acentuada), resolvi te escrever e esclarecer algo: nós vivemos apenas uma vez (não vamos entrar em méritos das diversas crenças religiosas: vamos apenas deixar claro que, enquanto vivos, nos lembramos apenas da realidade na qual estamos inseridos). Nada levamos dessa vida e você, querido amigo, é responsável por impedir que as coisas aconteçam e que memórias sejam formadas. Sim, as dores da frustração e das falhas são difíceis de lidar: somos programados para a perfeição; no entanto, permitir que a sua presença predomine no cotidiano é a permissão mais – desculpe o termo – burra que nós, seres humanos, podemos fazer. Venho, portanto, com um aviso prévio: estou sim me permitindo viver e sem você, medo.
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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Carta à autoestima

Durante muito tempo da minha vida (digo isso em proporcionalmente, até mesmo porque sou relativamente jovem em termos numéricos) eu não sabia da sua existência, autoestima.  De fato, posso contar nos dedos de uma mão há quanto tempo foi a sua aparição no meu cotidiano e como isso mudou minha vida. Por isso, venho aqui para enaltecê-la, querida amiga, e demonstrar toda gratidão que tenho por perceber como é bom tê-la por aqui.

Os que me conhecem um pouco melhor sabem da luta que eu tive durante anos contra mim mesma. Aquele clichê de que a pressão social impõe padrões estéticos e comportamentais me perseguiu durante tempo demais. A pior coisa que existia, pra mim, era ficar de frente ao espelho e notar tudo ali que não estava dentro desse padrãozinho (que é, na minha humilde opinião, muito pequeno e vazio frente à grandeza do ser humano). E essa luta perdurou anos. Sinceramente, não me lembro de momentos significativos da minha vida até pouco tempo atrás em que eu seguia de cabeça erguida, confiante do que eu realmente sou.

No meio disso tudo, percebi que é você, autoestima, que determina diversas outras coisas na vida: não é uma coisa puramente estética e não diz apenas ao externo – posso afirmar, com certeza, que isso é o que menos importa quando estamos confiantes com o que somos. O fato de eu ter me colocado pra baixo em todos os aspectos da minha vida (inclusive a própria escrita) vem desse histórico trágico, sendo que isso afetava até minhas amizades (meus amigos queridos podem confirmar isso, com toda a certeza do mundo). Talvez, dentre todos os danos, a vitimização exagerada tenha sido a que eu mais demorei para desapegar, porque é bastante claro, hoje em dia, que pouco importa em qual padrão você está inserido: basta apenas acreditar em si e mostrar isso para o mundo.

Mas, você deve estar se perguntando o porquê desse mega histórico de vida, permeado de discussões pouco pertinentes (não para mim). E a resposta é simples: só depois de passar por tudo isso que eu consegui me tornar quem eu sou e com a confiança que tenho em mim. No último ano, como você bem sabe, eu consigo andar de queixo erguido na rua e não me sinto mal por ser quem sou; também sei me valorizar como pessoa e entender que eu não devo me moldar ao ritmo de outros. Foi uma longa batalha (não completamente acabada, o que é bem óbvio – somos seres em constante mudança) que me rendeu um amor próprio que eu nem sabia da existência; e eu posso afirmar com toda a certeza do mundo: não existe coisa mais poderosa do que se amar.  E por isso tenho muito que agradecer.

Além disso tudo, venho te fazer um pedido, cara amiga: apareça na vida de todos (em doses moderadas – sabemos que você em excesso origina pessoas egoístas e mesquinhas). Eu queria ter uma varinha mágica para proporcionar a todos tudo de melhor que você me deu, todo esse bem estar de ser o que se é. Percebo, frequentemente, pessoas ao meu redor com dificuldades de se amarem e isso me gera aquele sentimento de impotência avassalador (principalmente pelo longo histórico de ET entre o meu círculo social).


Por isso, hoje me sinto bem por ser quem sou e, graças a você, não tenho mais medo de mostrar isso para o mundo. Afinal, às vezes é importante entendemos que nascemos para brilhar – e somente para isso.
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domingo, 16 de abril de 2017

Carta ao mal do século

Enquanto te escrevo, sinto uma fina gota de suor deslizar por minhas costas. Esse é o sinal claro de que está aqui. Você mais parece estar entrelaçada em cada molécula do meu corpo e não parece ter uma forma de eu ficar livre. Ao mesmo tempo em que tento escrever um texto muito mais significativo para mim (que inclusive não está terminado – assim como muitos outros), eu sinto uma dor no estômago que não é nada parecida com aquela causada pelas famosas borboletas (na verdade, está mais para a dor proporcionada pelo gorozinho da noite passada). Por isso, ansiedade, escrevo-te como uma tentativa desesperada de pedir para que você simplesmente suma.

Durante toda minha vida, sempre tive um constante coração acelerado. Claro que fui descobrir só bem mais velha que isso é causado pela adrenalina que, por sua vez, é liberada em casos de perigo. Mas, me responda francamente: qual o perigo que eu estou correndo, em condições normais, ao entrar em uma sala de aula ou ao expor uma opinião? Praticamente não existe nenhum. Embasei minha vida em não correr riscos para evitar sofrer um mal súbito, mas não percebi que isso também tiraria de mim histórias e experiências incríveis.

Lembro-me bem que, quando criança, eu era a única que quase nunca tocava a campainha do vizinho e saia correndo. O medo de que algo ruim acontecesse era muito maior do que o prazer da aventura juvenil. A ansiedade de ser perfeita, de ser a filha perfeita, a vizinha perfeita, a amiga perfeita e muitas outras coisas perfeitas me fez uma pessoa completamente falha e ansiosa, porque eu nunca consegui (ou conseguirei) ser um décimo da perfeição exigida à mim. Também, preciso ressaltar quantas vezes deixei de fazer algo pelo simples medo de falhar e esse movimento todo me causar crises de ansiedade por eu não estar fazendo isso (sim, muito confuso, mas facilmente explicável por ser um círculo vicioso: não faço por medo de falhar e falho por não fazer).
                                                                                                                                                                
Agora, apesar de ter me desprendido muito dessa lógica, passo por momentos intensos com você, ansiedade. A falta de sono, a compulsão alimentar, a queda dos meus cabelos e entre tantas outras coisas são graças a sua influência no meu cotidiano, além de todos os pesadelos, do cansaço físico e mental e da sensação constante de derrota. Você, basicamente, me enfiou num ringue de luta e eu preciso matar um leão por dia (mas esse leão é ressuscitado todos os dias, tenho certeza).


Por isso, dessa vez, não tenho uma conclusão. Sei que você assombra gente demais o tempo todo. Sei de muito amigos, pessoas incríveis, que necessitam de medicamentos controlados (assim como já tomei durante um tempo) para tentar ter uma qualidade de vida um pouco melhor. Sei tanto sobre você por você ser uma parte significativa de mim. E sei, acima de tudo, como eu queria ter o poder de tirar você da minha vida, mas não tenho. Escrevo-te apenas numa tentativa de fazer as pazes, porque já percebi, há muito tempo, que você não tem a mínima intenção de me deixar livre da sua presença.
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sábado, 8 de abril de 2017

Carta à distância

Eu sou da época em que as redes sociais alavancaram e existia uma frase muito recorrente e clichê (talvez não me lembre exatamente das palavras, mas vamos nos ater a ideia): não precisa estar perto para estar junto. Durante muito tempo essa frase não fez muito sentido pra mim; afinal, estavam todos os que eu amava ali perto. Mas, de um tempo pra cá, esse quase dito popular ganhou uma conotação sem igual no meu cotidiano e, por isso, escrevo para você, distância.

O processo de amadurecer tem sido intenso comigo nos últimos tempos (talvez piorou no último ano), porque comecei a perceber como a distância pode ser cruel, seja ela física ou não. A distância física, evidentemente, tem sido a mais avassaladora. De repente, alguns quilômetros começaram a fazer parte da estrada da vida, só que, dessa vez, essa estrada é real. Não que nenhum dos meus amigos queridos, da família que escolhi para me acompanhar para o resto da vida, tenham sido arrancados cruelmente da realidade e jogados em um “tanque de piranhas”, mas, de uma forma ou de outra, a distância física tem me causado certo sofrimento. É muito difícil percebermos que você, mediadora do destino, é responsável por nos dar outra realidade, outro cotidiano, outras pessoas e experiências.

Claro que também a distância emocional machuca; na realidade, ela machuca mais. Mas existe uma diferença clara: na maior parte das vezes (as vezes que são mais suportáveis) ela é branda e vem aos poucos. Existem raros casos (os realmente traumatizantes) em que você, querida distância emocional, chega e arrebenta tudo de uma vez; quase sempre, sua presença começa bem pequena até tomar conta de toda a situação. Não justifico essa forma de distanciamento como “menos pior”, mas ela simplesmente não rasga a pele e deixa sangrar.

Por isso, querida distância, escrevo-te para dizer que, no momento, não estou te entendendo plenamente. Reconheço que muitas vezes é preciso ir, mudar-se, readaptar-se e começar tudo de novo; isso acontece com todos. Mas, por algum motivo do destino (talvez até mesmo influência do alinhamento dos planetas – sim, acredito que os astros influenciam em aspectos da nossa vida), essa situação tem ocorrido com uma frequência absurda. Sou obrigada a deixar claro que fico feliz por cada pessoa que vai (apenas no sentido da distância física), já que esse é o momento em que ela se transforma e amadurece (novamente o amadurecimento em nossas vidas); no entanto, venho com um “pedido” desesperado: me ensine a lidar de forma mais eficaz com você. Todas as lágrimas e saudades causados pela falta do abraço, do beijo e mesmo da simples presença física tem me proporcionado transtornos e reações exageradas.

Mas para deixar bem claro: a famosa frase do Orkut estava bem certa. Não é a distância que afasta as almas que se encontraram e deram significado a nossa insignificância. Isso acontece pelas escolhas que fazemos e por quem escolhemos ter do nosso lado.
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segunda-feira, 3 de abril de 2017

Carta à não decisão

Escutei a vida toda que librianos são indecisos. Não sei se isso ficou impregnado no meu inconsciente, mas como uma boa libriana sou indecisa. Tenho dificuldade em escolher coisas simples, como qual caminho pegar e qual comida escolher em um restaurante (amigos mais íntimos sabem da minha mania de ficar 2 horas com o cardápio em mãos e não escolher nada). E isso não é um problema – não, isso não é uma tentativa de justificar minha quase ausência de decisões banais –, mas você, indecisão, não pode prejudicar o fluir da vida e as pessoas ao nosso redor.

Vou tentar me explicar melhor: convivo diariamente com pessoas que simplesmente não sabem escolher e isso acaba influenciando todos. O fato de eu ter problemas para decidir qual prato pedirei em um restaurante é bem diferente de eu não tomar decisões que envolvem alguém (ou “alguens”) ou mesmo que impeçam o caminhar dos dias. Nesse ponto da história, querida amiga, eu começo minhas longas – e, às vezes, tediosas – reflexões.

A minha geração, em geral, é aquela de pessoas entre 20 e 30 anos que simplesmente são postas a pressões constantes da sociedade, permeadas por expectativas sufocantes. Nisso, conclui que o medo de decepcionar os outros, de não cumprir essas tão famigeradas expectativas, leva a tomada de decisões inconclusivas, indefinidas, ou seja, indecisões. Somos a geração que tudo temos, mas pouco somos. Por isso, creio eu, que é mais fácil nos apoiarmos nos seus ombros calorosos e tão conhecidos, indecisão, do que nos arriscarmos em erros.

Eu mesma sou uma autora (em estado gestacional) que me amparo em você frequentemente. Esse texto é uma indecisão para mim, porque fico imaginando pessoas lendo e detestando (apesar de me inspirar bastante na maravilhosa Clarice Lispector, ainda não tenho a autoconfiança de escrever apenas para o meu ego), assim como todos os sete outros que comecei e não passei do segundo parágrafo. É fácil ser indeciso, mas, ao mesmo tempo, é uma das coisas mais difíceis que se pode existir, estabelecendo uma dicotomia. A insegurança, que está em estado simbiótico com o medo e você, querida amiga, é aquele sentimento que mais causa ansiedade e desespero de ser quem somos. E é nesse ponto que somos extremamente prejudicados por escolhermos a não decisão.

As relações interpessoais também estão se apoiando muito nessa ideia que você carrega por onde passa. O medo de nos entregarmos a uma situação nos deixa incessantemente indecisos, o que provoca no outro sofrimento (e, creio eu, esse não é objetivo de vida para ninguém). Não que seja errado ter indecisões, como já te disse, mas elas simplesmente não podem paralisar e impedir que as coisas fluam e aconteçam no seu tempo e hora.

Sim, querida amiga, você está presente em lugares onde não deveria. A sua presença, muitas vezes, me paralisou. O medo dos erros, infelizmente, sobrepôs a necessidade deles para futuros acertos e nisso você tem uma grande parte da culpa. Mas te escrevo agora como uma espécie de aviso prévio: sua função, a partir de agora, está apenas na escolha de cardápios, roupas e outras coisas triviais. Afinal, só se vive uma vez e eu prefiro um livro de erros, com diversos capítulos extensos e jocosos, do que um livro que conte apenas o que era para ter sido, mas não foi. Por isso, querida amiga, respeite essa decisão – que foi tomada depois de muitas horas de sofrimento em sua presença – e aceite que não estou de dispensando, mas sim te colocando em seu devido lugar.


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quarta-feira, 29 de março de 2017

Cartas aos infortúnios da vida

Venho tentando te falar algumas coisas há algum tempo. Nesse caso, vou apenas escrever algumas conclusões que cheguei depois de muito pensar.

Desde muito jovem, talvez lá pelos meus 10 anos de idade, eu já tinha bem certo tudo o que queria da vida. Era uma pessoa decidida até demais (indo contra, em certa parte, com o que sou hoje). O que eu não sabia na época era que os planos são feitos e não são necessariamente cumpridos. Outro dia mesmo, conversava com uma amiga de anos sobre como imaginávamos nossa vida diferente do que é agora. E é ai que você entra.

Basicamente, é a “uma pedra no meio do caminho”, como disse o fantástico Drummond. É aquela coisa que eu não espero e que simplesmente acontece e destroça todos os planos. Nessa vida de cursinho pré-vestibular já dei de cara com você muito mais do que gostaria.

Mas não, não estou aqui tomando seu tempo para apenas criticar o quão ruim você pode ser. É que demorei um tempo (na verdade, ainda não sei se passei por esse tempo completamente) para entender que tudo que é ruim é tão necessário quanto as coisas boas, senão mais importante ainda. Lembro-me bem, voltando de Buenos Aires, arrasada e sem dormir, de perguntar pra mim mesma: “E agora?”. Meus planos de uma vida nova haviam desmoronado por aquela onda de má sorte que parecia me perseguir havia meses.  Estava no aeroporto quando cheguei à conclusão de que era uma oportunidade para recomeçar, o que realmente foi.

Agora, mais de dois anos após esse episódio fatídico, me pego, frequentemente, agradecendo pelos infortúnios da vida. Algumas das decisões que tomamos são feitas de forma despretensiosa, sem pensar muito nas consequências e no outro lado da história. Esse capítulo da minha vida é cheio de fugas da realidade e de desejo de conquistas instantâneas, o que me fez aprender que não é sempre que as coisas vão ser agradáveis ou fáceis de conseguir.


Por isso, te escrevo essa pequena reflexão, que é mais uma narração de um momento ruim da minha existência. Aprendi muito nessa vida (apesar de breve, já passei por diversas situações) e sei que as coisas não programadas são as mais interessantes, arriscadas, infelizes e certeiras que temos. É um misto de emoções difíceis de lidar durante o início e o meio, mas que quando se fecha, como em um tecido, tudo tem mais sentido e coesão. Por isso, você, infortúnio, é apenas um velho amigo que vai continuar me ensinando, da forma mais difícil, o que é superar essa “pedra no meio do caminho”.
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domingo, 26 de março de 2017

Carta ao que escolheu ir

E você chegou sem querer, do nada, e fez um arrastão aqui. Dentro de mim, algumas coisas certas não são mais tão certas e algumas incertezas nem existem mais.

Quando você apareceu, eu não esperava nada. Na verdade, tinha até medo de querer e esperar algo. Pra mim, uma pessoa que era tão cheia de certezas, a sua aparição foi um algo muito certeiro e muito fora de tudo o que eu imaginava. Sim, te afastei de início: não queria me magoar. Mesmo quando o assunto é o outro, é bem visível que a preocupação com o bem estar individual é o foco da vida de cada um. Mas, aos poucos, você foi me conquistando e me mostrando que, talvez, não fosse tão difícil assim se permitir.

E ai eu decidi abaixar a guarda. Coloquei todas as minhas defesas no chão, me desarmei, me entreguei. Mas me entreguei como se fosse sugada por um furacão: eu, que sou tão hiperbólica, não consigo viver as coisas pela metade; então, me afundei nisso. Todos os medos de me entregar à situação ficaram em segundo plano e aquela vontade de viver o presente e de estar na presença do outro eram muito mais fortes e evidentes do que as inseguranças. E então, resolvi me abrir.

Ai, talvez, comece o fim. Quando nos doamos a alguém, não podemos esperar reciprocidade de cara. E eu, novamente o exagero em forma de pessoa, me doei de corpo de alma, mergulhei de cabeça em uma empreitada que talvez fosse um suicídio. E, de certa forma, foi, até mesmo porque mergulhei em uma piscina vazia. Nos cegamos quando estamos obstinados em algo e eu, novamente, não vi que a reciprocidade não estava ali.


Até que o fim certeiro veio. Palavras doces, delicadas, mas definitivamente... definitivas. Cortando como uma faca afiada, cortou os últimos fios de esperança de algo durador. Mas não se confunda: a faca afiada faz um corte rápido e limpo, que deixa uma cicatriz pequena (que talvez, um dia, vire motivo de orgulho). A dor de ver alguém partir existe, sempre, mas as cicatrizes deixas pelas partidas são das mais variadas possíveis e essa, pelo que parece, é uma das pequenas, finas e bem suturadas.

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