quarta-feira, 29 de março de 2017

Cartas aos infortúnios da vida

Venho tentando te falar algumas coisas há algum tempo. Nesse caso, vou apenas escrever algumas conclusões que cheguei depois de muito pensar.

Desde muito jovem, talvez lá pelos meus 10 anos de idade, eu já tinha bem certo tudo o que queria da vida. Era uma pessoa decidida até demais (indo contra, em certa parte, com o que sou hoje). O que eu não sabia na época era que os planos são feitos e não são necessariamente cumpridos. Outro dia mesmo, conversava com uma amiga de anos sobre como imaginávamos nossa vida diferente do que é agora. E é ai que você entra.

Basicamente, é a “uma pedra no meio do caminho”, como disse o fantástico Drummond. É aquela coisa que eu não espero e que simplesmente acontece e destroça todos os planos. Nessa vida de cursinho pré-vestibular já dei de cara com você muito mais do que gostaria.

Mas não, não estou aqui tomando seu tempo para apenas criticar o quão ruim você pode ser. É que demorei um tempo (na verdade, ainda não sei se passei por esse tempo completamente) para entender que tudo que é ruim é tão necessário quanto as coisas boas, senão mais importante ainda. Lembro-me bem, voltando de Buenos Aires, arrasada e sem dormir, de perguntar pra mim mesma: “E agora?”. Meus planos de uma vida nova haviam desmoronado por aquela onda de má sorte que parecia me perseguir havia meses.  Estava no aeroporto quando cheguei à conclusão de que era uma oportunidade para recomeçar, o que realmente foi.

Agora, mais de dois anos após esse episódio fatídico, me pego, frequentemente, agradecendo pelos infortúnios da vida. Algumas das decisões que tomamos são feitas de forma despretensiosa, sem pensar muito nas consequências e no outro lado da história. Esse capítulo da minha vida é cheio de fugas da realidade e de desejo de conquistas instantâneas, o que me fez aprender que não é sempre que as coisas vão ser agradáveis ou fáceis de conseguir.


Por isso, te escrevo essa pequena reflexão, que é mais uma narração de um momento ruim da minha existência. Aprendi muito nessa vida (apesar de breve, já passei por diversas situações) e sei que as coisas não programadas são as mais interessantes, arriscadas, infelizes e certeiras que temos. É um misto de emoções difíceis de lidar durante o início e o meio, mas que quando se fecha, como em um tecido, tudo tem mais sentido e coesão. Por isso, você, infortúnio, é apenas um velho amigo que vai continuar me ensinando, da forma mais difícil, o que é superar essa “pedra no meio do caminho”.
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domingo, 26 de março de 2017

Carta ao que escolheu ir

E você chegou sem querer, do nada, e fez um arrastão aqui. Dentro de mim, algumas coisas certas não são mais tão certas e algumas incertezas nem existem mais.

Quando você apareceu, eu não esperava nada. Na verdade, tinha até medo de querer e esperar algo. Pra mim, uma pessoa que era tão cheia de certezas, a sua aparição foi um algo muito certeiro e muito fora de tudo o que eu imaginava. Sim, te afastei de início: não queria me magoar. Mesmo quando o assunto é o outro, é bem visível que a preocupação com o bem estar individual é o foco da vida de cada um. Mas, aos poucos, você foi me conquistando e me mostrando que, talvez, não fosse tão difícil assim se permitir.

E ai eu decidi abaixar a guarda. Coloquei todas as minhas defesas no chão, me desarmei, me entreguei. Mas me entreguei como se fosse sugada por um furacão: eu, que sou tão hiperbólica, não consigo viver as coisas pela metade; então, me afundei nisso. Todos os medos de me entregar à situação ficaram em segundo plano e aquela vontade de viver o presente e de estar na presença do outro eram muito mais fortes e evidentes do que as inseguranças. E então, resolvi me abrir.

Ai, talvez, comece o fim. Quando nos doamos a alguém, não podemos esperar reciprocidade de cara. E eu, novamente o exagero em forma de pessoa, me doei de corpo de alma, mergulhei de cabeça em uma empreitada que talvez fosse um suicídio. E, de certa forma, foi, até mesmo porque mergulhei em uma piscina vazia. Nos cegamos quando estamos obstinados em algo e eu, novamente, não vi que a reciprocidade não estava ali.


Até que o fim certeiro veio. Palavras doces, delicadas, mas definitivamente... definitivas. Cortando como uma faca afiada, cortou os últimos fios de esperança de algo durador. Mas não se confunda: a faca afiada faz um corte rápido e limpo, que deixa uma cicatriz pequena (que talvez, um dia, vire motivo de orgulho). A dor de ver alguém partir existe, sempre, mas as cicatrizes deixas pelas partidas são das mais variadas possíveis e essa, pelo que parece, é uma das pequenas, finas e bem suturadas.

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