Venho tentando te falar algumas coisas há algum tempo. Nesse
caso, vou apenas escrever algumas conclusões que cheguei depois de muito
pensar.
Desde muito jovem, talvez lá pelos meus 10 anos de idade, eu
já tinha bem certo tudo o que queria da vida. Era uma pessoa decidida até
demais (indo contra, em certa parte, com o que sou hoje). O que eu não sabia na
época era que os planos são feitos e não são necessariamente cumpridos. Outro
dia mesmo, conversava com uma amiga de anos sobre como imaginávamos nossa vida
diferente do que é agora. E é ai que você entra.
Basicamente, é a “uma pedra no meio do caminho”, como disse
o fantástico Drummond. É aquela coisa que eu não espero e que simplesmente
acontece e destroça todos os planos. Nessa vida de cursinho pré-vestibular já
dei de cara com você muito mais do que gostaria.
Mas não, não estou aqui tomando seu tempo para apenas
criticar o quão ruim você pode ser. É que demorei um tempo (na verdade, ainda
não sei se passei por esse tempo completamente) para entender que tudo que é
ruim é tão necessário quanto as coisas boas, senão mais importante ainda.
Lembro-me bem, voltando de Buenos Aires, arrasada e sem dormir, de perguntar
pra mim mesma: “E agora?”. Meus planos de uma vida nova haviam desmoronado por
aquela onda de má sorte que parecia me perseguir havia meses. Estava no aeroporto quando cheguei à
conclusão de que era uma oportunidade para recomeçar, o que realmente foi.
Agora, mais de dois anos após esse episódio fatídico, me
pego, frequentemente, agradecendo pelos infortúnios da vida. Algumas das
decisões que tomamos são feitas de forma despretensiosa, sem pensar muito nas
consequências e no outro lado da história. Esse capítulo da minha vida é cheio
de fugas da realidade e de desejo de conquistas instantâneas, o que me fez
aprender que não é sempre que as coisas vão ser agradáveis ou fáceis de
conseguir.
Por isso, te escrevo essa pequena reflexão, que é mais uma
narração de um momento ruim da minha existência. Aprendi muito nessa vida
(apesar de breve, já passei por diversas situações) e sei que as coisas não
programadas são as mais interessantes, arriscadas, infelizes e certeiras que
temos. É um misto de emoções difíceis de lidar durante o início e o meio, mas que
quando se fecha, como em um tecido, tudo tem mais sentido e coesão. Por isso,
você, infortúnio, é apenas um velho amigo que vai continuar me ensinando, da
forma mais difícil, o que é superar essa “pedra no meio do caminho”.