Durante muito tempo, talvez a minha vida toda, eu
estive amarrada: amarrada a padrões que eu não podia (ou queria) alcançar, a
crenças que não me serviam, a modelos que não eram os melhores pra mim. Isso
tudo até ontem. Sim, ontem. E, apesar de saber muito bem que poderia estar
escrevendo para a liberdade (coisa que ainda posso fazer no futuro), hoje
escrevo uma carta de despedida para vocês, amarras.
Aos que não me conhecem pessoalmente podem até
estranhar, mas os mais próximos entenderam de primeira: eu vivi amarrada a um
padrão que não conseguiria, nem mesmo com os esforços do falecido Pitanguy,
chegar. Foram vocês, amarras, que me mantiveram por 25 anos presa a uma
cicatriz (que sim, ocupa metade do meu rosto e não passa despercebida). Mas,
pasmem ou não, só ontem que eu percebi que os meus esforços para me igualar ao
padrão “revista Caras” eram em vão; o que é certo e eu não fazia é simplesmente
assumir quem eu sou para mim e não me importar com o outro. E por isso decidi
me desapegar de tudo aquilo que me prende.
Claro que isso foi só o estopim de um péssimo
relacionamento com o espelho (e, às vezes, com o olhar alheio). Na realidade, o
que sempre me irritou foi deixar que vocês, amarras, conseguissem mandar em mim
como uma marionete. Não foram poucas vezes que me deixei abater por um olhar
alheio ou um comentário desagradável e estar amarrada me empurrava ainda mais
para o fundo do poço. É muito importante e necessário entender que existe sim
uma consciência social, um padrão, mas que ele só deve ser aceito por quem quer
e gosta disso; o que importa nessa vida é apenas ser feliz.
Amarras, não se enganem pensando que vocês me
prenderam apenas nisso: tirando todas as consequências como a autoestima baixa
e o medo de relacionamentos, você ainda mudou a forma de eu lidar comigo mesma;
e não foi em um bom sentido. Pensando na vida (coisa que eu faço com frequência
pela madrugada), percebo que fui deixando de lado aquela menina encantadora, de
opinião forte e gostos peculiares porque existia algo (imaginário, obviamente)
que me impedia de ousar, de ter orgulho das minhas ações e de quem eu sou.
Confesso que perdi muito tempo tentando achar a causa disso tudo e esqueci que
a causa pouco importa nesse caso: o importante era corrigir, antes que fosse
tarde demais.
Me lembro ainda de todas as vezes que me deixei ser
esse fantoche, quase inanimado, pelo simples medo de quebrar a cara. Mas,
perai, quem nunca quebrou a cara? Hoje eu percebo tão claramente como fui tola
em me apoiar em vocês, amarras. Claro que é muito mais confortável me apoiar em
decisões que eu não preciso tomar ou não preciso encarar consequências, mas não
existe nada melhor do que se reconhecer. Não vou mentir que as últimas 24 horas
tem sido um pouco difíceis, já que encarar eu mesma, nua e crua, evidencia
muita coisa que me desagrada; ainda estou presa a algumas coisas que, com um
pouco de esforço, me libertarei.
Por isso, queridas amigas, venho aqui me despedir. Me
redescobri como uma pessoa que pode ter movimentos próprios e pode se orgulhar
do que pensa e que, acima de tudo isso, posso abraçar a minha cicatriz como
algo que sou. Não ter pena de mim mesma ou ficar pensando no que seria
diferente caso nunca tivesse tido meu hemangioma é o mesmo que respirar o ar de
uma praia à noite: revigorante. Agora, vou gastar minha energia me amando e
amando aqueles que me aceitam como eu sou (mesmo estando tão fora desse
padrãozinho). Assim, obrigada, amarras, e até nunca mais.
Aplausos, aplausos, aplausos...a mão já ficou roxa e não consigo parar!
ResponderExcluirAhhhh, obrigada, lindona!!
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