"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." Antoine de Saint-ExupéryE pelo que matas também.
Apesar de parecer ter um viés tão político, escrevo a
vocês que estão me matando. São pessoas na rua que julgam meu corpo ou meu
comportamento; são professores que esquecem que somos humanos e temos
sentimentos e, mesmo assim, resolvem jogar frustrações nos alunos; são colegas
que não medem palavras ou ações; são amigos (ou ex-amigos) que se tornaram nada
mais do que conhecidos. As pessoas estão matando e matando vontades, desejos,
sorrisos.
Sinto que aquele sentimento de empatia, de cooperação,
ficou lá no tempo das cavernas (se é que isso existiu algum dia). O que conta,
o tempo todo, é o que você deseja e ponto final. Vivo em um meio que se esperava
ter a plenitude de ajuda mútua, já que todos estão ali pela saúde, mas nada é
mais egoísta e individualista do que isso. E digo isso desde os professores
mesmo. Mal sabem eles que eles matam mais sonhos do que criam, que mais
desestimulam do que empolgam. Criam sentimento de frustração misturado com “o
que eu tô fazendo da minha vida?”, que guia a vida dos que estão morrendo (e
estão deixando os outros matarem).
Às vezes, queridos amigos, o dia fica pesado. Fica difícil
levantar da cama, sorrir de verdade e seguir o dia. Mesmo nos dias mais
ensolarados, essas pequenas mortes pode fazer com que uma nuvem fique em cima
da cabeça. Mesmo que eu esteja onde sempre quis, vivendo a vida que realmente
desejei, parece que morrer todo dia um pouquinho me faz sentir menos merecedora
do que tenho. E, com todo respeito, isso é uma merda.
Claro que não vou responsabilizar os outros por toda
essa frustração. Tenho minha parte de culpa sim. Eu sou permissiva, deixo que isso
me mate, que me desestimule, que me dê vontade de desistir de tudo. E, mesmo
assumindo isso, na maioria das vezes eu não sei o que fazer – a não ser me
abater. E, talvez, ainda não sei me valorizar o suficiente ou não me esforço o
suficiente pra superar expectativas alheias, mas não sei viver em função do que
o outro espera de mim.
Apesar disso tudo, sigo esperançosa (mesmo em tempos
tão difíceis para os sonhadores) de que, em pouco tempo, vou conseguir me
desvincular dar pequenas mortes diárias e vou deixar apenas o oxigênio me matar
naturalmente. O tempo aqui, nesse planeta, é tão pequeno e aparentemente desprezível
que não existe razão para sofrer. E vocês, que matam os outros todos os dias,
entendam: mesmo sem saber, cada um tem responsabilidade (mesmo que minúscula)
emocional com os outros, ou seja, TUDO o que você faz pode afetar a outra pessoa
e pode destruir a vida de alguém. E aos que estão matando e sabem que estão: fod*m-se
e vão cuidar da própria vida.