terça-feira, 16 de julho de 2019

Carta à saudade


“Eu tô com uma saudade apertada
Rubel

Sabe aquele sentimento que todo mundo tem pelo o menos uma vez na vida? Eu estou tendo uma vez por dia. É você, que parece andar junto com a distância e com a solidão, que traz fácil demais aos olhos lágrimas, que faz querer voltar no tempo. O coração anda apertado e você predomina nos meus dias atuais. Foi pra você que tantas músicas sertanejas foram escritas, cantadas e choradas. É você, saudade, que me causa angústia e por isso eu te escrevo hoje.

Quando resolvi abrir asas e partir num longo voo para “realizar um sonho”, não imaginava que com os 2100 km trariam tantas coisas: trouxe um novo sotaque, novas comidas, novas amizades, nova rotina, novos compromissos, novas responsabilidades, mas, acima de tudo, te trouxe para minha vida de uma maneira ‘devastadora’, saudade. Claro que não sou ingênua de achar que nada mudaria: afinal, a vida de todos continua.

No entanto, às vezes, tudo que a gente queria era que a sua presença não incomodasse tanto – não, incomodo é muito pouco: que não doesse tanto. Às vezes, o que queremos no fim do dia é nos sentirmos amados, confortáveis, bem, acolhidos... em casa. Sim, nosso lar está em nós mesmos, mas a similaridade com o ambiente, com as pessoas, com o cheiro, com tudo, nos aproxima de nós ainda mais.

É com você que eu tenho acordado todos os dias. E o mais engraçado é que muitas coisas ainda nem se foram pra eu sentir tanta falta. E aí que eu penso: é o sentimento de apego, de proteção, de identificação que nos faz parecer que perdemos algo antes mesmo disso sequer acontecer? É você achar um lar, um lugar no mundo, e parecer que o seu mundo está querendo ficar em outra órbita?

São muitas perguntas sem respostas; e até prefiro que seja assim: tentar responder coisas do futuro vão apenas dar saudade de coisas que nem aconteceram e todo esse sentimento vai atrapalhar viver o presente o máximo que puder. E, no fim das contas, no crepúsculo de cada dia, temos apenas o agora para viver.

Então, saudade, vim te escrever para que você realmente entenda que sei que está aqui. E você dói. Você tem a cara de Minas, dos meus pais, da minha família, dos meus queridos amigos; o cheiro da minha avó e do seu mingau de milho verde; a temperatura fria nessa época do ano; o som dos pássaros na casa dos meus pais e das risadas de todos que amam e que estão longe; o gosto da melhor comida do mundo e das padarias maravilhosas que só achei lá. Queria ter uma máquina de teletransporte para, no mínimo, abraçar todos que estão longe (e não só em Minas: tenho amigos espalhados por quase todo país) e sentir todo o amor e carinho que só eles podem me dar.

Estar longe é bom e necessário, mas você, saudade, as vezes deixa tudo como um doce diet: com um gostinho amargo no fim.

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