domingo, 26 de novembro de 2017

Carta à determinação

Durante muito tempo - a vida toda, na verdade – fui tida como uma pessoa determinada: sempre conseguia o que realmente queria, mesmo se isso custasse minha saúde mental (caso óbvio do cursinho).  Não sei se o nome disso é realmente determinação ou se foi um instinto de sobrevivência não depressiva, mas sei que, na maioria das vezes, eu consegui o que mais quis. Ontem mesmo ficou evidente isso: consegui algo que até mesmo eu duvidei de mim. Por isso, depois de passar uma tarde de muitos sentimentos intensos, te escrevo hoje, determinação.

Correr atrás de algo foi algo muito instintivo pra mim: sempre soube muito claro que nada cai do céu em minhas mãos; por isso, sempre me esforcei para conseguir ser o meu melhor. No entanto, os muitos meses de férias tem me feito passar por longas horas comigo mesma, mergulhada numa autorreflexão, que me fez perceber algo, no mínimo, doloroso: para que você existia, querida determinação, precisa, necessariamente, existir motivação. Parece meio óbvio e simples, mas não é. Nada do que tentei até hoje foi o meu máximo caso eu não tivesse uma real motivação, como foi o caso de ontem: corri por um propósito (chegar ao fim), mas sem uma motivação. O resultado foi o esperado: frustação.

Claro que nem sempre as coisas sem motivação não dão em coisas boas, mas existe também o fator sorte. E isso não é só em uma corrida ou em uma vaga em uma universidade: percebo, hoje mais claramente do que outros dias, que você, amada determinação, está também nas relações interpessoais. Talvez até mesmo você se assuste, mas existe determinação maior do que se deixar amar ou ser amado? E isso está muito além de pura sorte. É exaustivo estar determinado a deixar o outro entrar na própria vida e, principalmente, a não querer que o outro se torne algo que não é (o que tornaria esse processo mais fácil, mas menos verdadeiro).

E, para “aguentar” a companhia do outro, exige-se MUITO a sua presença, determinação. É difícil conquistar e manter na nossa vida qualquer pessoa, seja ela um familiar, um amigo ou um amor. Nisso, eu acredito que o amor seja a motivação principal: qual seria o motivo se de destroçar e de se machucar apenas para que alguém permaneça na nossa vida? Porque sim, apesar de sabermos que algumas coisas são complemente loucas e fora do comum, nós fazemos de tudo para que as coisas deem certo – e isso é puramente determinação.

Que fique bem claro, querida amiga, que ser determinado tem limites até mesmo físicos. Apesar de fazermos de tudo para que tudo dê certo e fique em paz, nem sempre é possível que isso aconteça. Então, outra coisa que vive colada em você é a cautela, mesmo que você a tente sufocar o tempo todo. Sei muito bem como você pode ser intensa e até libertina, fazendo com que o chão se perca e o céu se torne um limite muito pequeno, mas sei também como até você entende que um pouco de cautela se faz necessário.


É por isso, amiga determinação, que eu acordo todos os dias traçando planos para a minha vida: não que não vão surgir curvas no caminho, mas estarei o mais bem preparada para as que surgirem. Aprendi com uma pessoa que tudo se deve fazer com a sua máxima excelência e passei a desejar isso para tudo na minha vida. E, apesar de ter deixado a cautela e o medo (sim, o infeliz do medo) me guiar tanto nos últimos tempos, não consigo me desvencilhar desse sentimento poderoso que você me proporciona: na sua companhia, me sinto uma heroína, que posso fazer o que quiser. E assim que quero me sentir todos os dias, como se se o céu fosse um limite pequeno demais para tudo de grande que posso fazer.
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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Carta ao verdadeiro amor

Talvez eu esteja falando muito de amor; a primavera incita isso nos românticos natos, como eu. E, talvez, depois de tanto conversar com uma amiga que roubou um belo lugar no camarote da vida, eu tenha chegado a alguma conclusão sobre você, verdadeiro amor.

Antes de qualquer coisa, querido verdadeiro amor, quero declarar meu apreço profundo por você: não sei como um sentimento tão puro possa ser tão complexo e possa preencher tanto espaço dentro do nosso vazio existencial. E como você, apesar de todos os pesares, está aqui o tempo todo... Venho hoje então falar de duas formas suas que tem muito me intrigado: o verdadeiro amor próprio e o verdadeiro amor romântico.

Não sei o porquê de ser de uma geração de pessoas tão obcecadas com o amor que vem do outro: o primeiro amor, o mais honesto e puro, que podemos ter é o nosso próprio. Eu percebi que não me amava tanto quando não sabia mais quem eu era: era um tanto quanto desesperador olhar no espelho e não me conhecer tão bem (e olha que passo, literalmente, 24 horas por dia comigo). Até que, um belo dia, comecei a tirar um tempo meu pra fazer coisas pra mim. Ai, meu querido amigo, eu vi como você é de verdade: é aquela presença que, no início é tímida, mas logo conquista todo o espaço; é simples e quente; e, acima de tudo, diz tudo sobre quem eu sou. Confesso que colocar o meu blog no ar foi um gesto tão amoroso da minha parte, por simplesmente compartilhar com o mundo (ou com ninguém, como achei por um tempo) algo que faço simplesmente por fazer, sem motivação ou cobrança: por puro amor verdadeiro.

Essa história de amor parece tão clichê que, muitas vezes, optamos pode deixar ela de lado. Em um tempo que nada parece valer a pena, já que tudo tem data de expirar, parece que se amar ficou cafona. Se sim, quero ser muito cafona sempre. E tudo isso, principalmente, porque é necessário se amar antes de deixar que outra pessoa te ame. Sim, para o outro te amar, ele precisa ter certeza que ama alguém por inteiro; e só se é por inteiro quando todos os pedaços quebrados, todas as emendas tortas estão preenchidas com o mais belo e puro amor próprio. Piegas? Bastante. Mas simplesmente maravilhoso.

Ai entra aquela história de amar alguém. Poxa, como é difícil amar alguém: se já é difícil nos amar, aceitando todos nossos acertos e erros, imagina o outro, que não podemos fazer nada para mudar? E é ai que você se torna protagonista, amor verdadeiro: como amar alguém, acima de tudo? Pra mim, quando nós nos amamos por completo, nós paramos de aceitar os meios amores e começamos a definir o que realmente queremos, para atrair isso; e isso vai até que, um belo dia, nos esbarramos em alguém que valha a pena compartilhar a vida, que te entenda, saiba respeitar o seu limite, te olhe com olhos bondosos, tenha sua própria existência e compartilhe isso com você todos os dias, pelos gestos mais simples. E isso tudo é amar o outro também, não cobrando nada ou exigindo e só existindo. Claro que isso leva algum tempo: nossa vida não é como os filmes, em que tudo acontece em 2 horas – vai do inferno ao céu e tudo fecha com um final feliz. As coisas levam tempo e coisas como você, querido amigo, valem a pena esperar.

Apesar de tudo isso, sei como é difícil permitir você aqui; como já disse para o seu primo torto, meio amor: todos nós, seres humanos, já esbarramos por coisas que estavam mascaradas de coisas verdadeiras, mas que eram, na verdade, uma bela de uma emboscada. E viver esses momentos de decepção faz com que criemos barreiras que parecem instransponíveis, mas que só parecem. Eu achei uma saída até bastante útil pra isso: a liberdade. Como diria o meu filósofo predileto, Sartre, o ser humano é essencialmente livre. Imagine só, querido amor verdadeiro, o que é isso: tirando a parte problematizadora disso, é a liberdade que nos torna quem somos e não existe nada mais livre, para mim, do que o poder de amar. E esses poder, assim como diversas outras coisas, é exercitável: ninguém nasce amando o mundo ou a si mesmo; é necessário um esforço para exercer a liberdade de amar. As crianças, seres mais puros e livres, exercem essa liberdade com uma maestria inspiradora: amam sem pudor.

Por isso, querido amor verdadeiro, te escrevo hoje. Às vezes parece que nos esquecemos de você, mas estou convicta de que isso não passa de uma aparência. Sei que é necessário, acima de tudo, que nos amemos como nunca antes; e, com isso, nós deixamos um espaço pra alguém que queira acrescentar algo, que queira, de fato, dividir a vida. E tudo isso, todo esse amor, acontece por um único motivo: porque sim. Não existe explicação, mas tudo faz sentido. Na minha humilde opinião, não somos seres que nascemos para viver eternamente na solidão e ter com quem dividir a vida plenamente é uma dádiva que só a liberdade pode trazer. Hoje, mais do que nunca, quero me tornar de novo uma criança: quero amar – me amar, principalmente - sem freios, sem pudores, sem medos e, acima de tudo, livre.


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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Carta aos meios amores

Agorinha conversava com uma amiga sobre relacionamentos frustrados. São sempre paixões avassaladoras (ou não), que nos fazem mudar algo em nós mesmos e que acabam. São coisas pelas metades quando queremos coisas inteiras. E, apesar de parecer nos quebrar, é com elas que aprendemos e crescemos. Por isso, escrevo a vocês, queridos meios amores, para agradecer todo o crescimento, apesar de toda a dor.

Nos dias de hoje, como diria o querido Bauman (que, me desculpem, mas não é um dos meus autores preferidos), vivemos em uma sociedade com relações liquidas: tudo é muito etéreo, quase uma nuvem que logo se desfaz. E sim, me meti em situações assim. Foi nesse momento que me vi com vocês, meios amores: relações pela metade, quando tudo o que eu queria e precisava era de coisas inteiras. É aquele abismo da indecisão: você vê naquela situação uma potencial salvação para sua vida, mas, ao mesmo tempo, é um caos certo. São vocês, amores pela metade, que nos quebram e nos fazem colar os pedaços que antes não existiam.

E eu, como romântica incorrigível (apesar de algumas atitudes parecerem provar o contrário, ninguém sabe o conto de fadas que passa pela minha cabeça sempre), me quebrei algumas vezes; uma muito pior do que as outras, mas quebrei. E o processo de me reconstruir foi encontrando novos meios amores que me quebraram e que, ao mesmo tempo, me fizeram colar outras partes. É tudo muito estranho, confuso; credito essa loucura a minha amada maturidade.

O que eu pretendo, caros amores quebrados, é dizer que, antes de tudo, eu entendo vocês. Com certeza, fui meio amor de alguém nessa vida (e talvez nem saiba disso) e, por isso, precisei passar por um processo de digerir vocês: todas essas histórias foram uma carga muito maior do que eu pensei que poderia suportar. Foram noites e noites tentando entender o porquê de sofrer por algo que apenas vem para nos agregar; e ai que entendi que vocês também estão aqui para ajudar: só assim, passando por essas situações pela metade, que nós, seres humanos, percebemos que não devemos aceitar qualquer coisa, só pelo medo da solidão. Estar só não é, nem de longe, a pior coisa que podemos passar: se sentir só em uma relação é muito pior (palavras de quem já esteve ai).

O ser humano, por natureza, sente a necessidade de alguém; no sentido biológico, é necessário perpetuar a espécie. Mas, num sentindo mais profundo, nós sentimos uma vontade inerente de dividir os momentos com alguém (sim, essa é uma construação social, mas não venho aqui problematizar ou dizer que é errado: é apenas algo que existe de fato). Nesse momento, nessa necessidade de compartilhar a vida, é que aceitei um amor pela metade; nossa, como é difícil desapegar disso.  E foi nesse momento que me apareceu um bom e velho amigo: o tempo.

Queridos amores pela metade: o tempo nos destrói e nos constrói constantemente. Só assim consigo olhar hoje para o passado e agradecer todos vocês, meios amores. O tempo é como um médico em um pronto socorro: estanca o ferimento, sutura e prescreve medicamentos, sem se importar com a cicatriz. E o mais trágico de toda essa história é que vocês são como um acidente que causa todo esse ferimento, mas que não é possível prever tudo isso antes de acontecer. Por isso, apesar de todos os pesares, as vezes é necessário passar por esses erros para evitar um erro muito maior: ignorar um amor inteiro, que vem para completar o nosso próprio inteiro.

Quero deixar bem claro que não gosto particularmente de vocês, afinal me passam a mesma sensação de estar perto de um furação: uma ventania, uma confusão e uma destruição. Mas, como toda boa tempestade, existe a calmaria e é a isso que estou apegada. Afinal, como a romântica desmedida, ainda acredito muito em dividir sua felicidade (e talvez tristeza) com outro alguém. Porque, apesar de não acreditar no "Felizes para sempre", quero sim uma parceria para a eternidade.

E aqui me despeço, queridos meios amores, pela última vez. Todas as vezes que vocês aconteceram, levaram um pedaço meu, mas isso me ajudou a ser o que sou hoje; por isso, meu mais sincero muito obrigada. E, por mim, espero que o universo me ouça: continue me trazendo amores, mas espero ansiosamente um amor por inteiro.
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