sábado, 18 de abril de 2020

Carta aos amores calmos


Um turbilhão de emoções: é isso que esperamos de um amor. Esperamos vê-lo do outro lado da rua, com uma áurea iluminada, anunciando que é o nosso amor. E ai vem uma novela mexicana: a busca incansável, as inúmeras frustrações e expectativas... É, todos nós vemos isso nos romances hollywoodianos. Mas e se não for sempre assim? E se a gente ir gostando aos pouquinhos e se apaixonando sem nem perceber e de repente simplesmente ser? E se eu te amar todos os dias um pouquinho mais, mas sem sentir aquela paixão avassaladora/destrutiva da adolescência? E se realmente você for o caminho, amor calmo?

Eu sou libriana. Isso já diz muito: conquistadora, mas muito romântica. Pulando a parte de conquistadora, eu sou muito romântica. Lembro do meu primeiro amor, logo na infância: era o meu oposto – agressivo e fazia bullying comigo (sem citar nomes, porque né). E eu acho, que depois de passar pelo terceiro “grande” amor da minha vida (porque durante a infância e adolescência aquele parece ser o amor da vida), eu achei que amar alguém deveria ser um tornado: chega chegando, destrói tudo e te deixa aos pedaços. Mas, nas idas e vindas do amor, eu me deparei com algo o oposto: algo que acalenta o coração, ao invés de destruir. No auge dos meus 25 anos, bem entre a suposta vida adulta (que eu ainda não enxergo), eu me deparei com 1 metro e 93 de puro amor. Mas esse amor que eu não esperava encontrar até te perceber na minha vida, calmaria.

Cresci lendo mil livros de romance (e ainda os leio compulsivamente, principalmente esses best sellers) e vendo filmes em que isso não existia: nunca víamos o depois, só a conquista. E acho que eu e muita gente por ai acreditamos que isso nem existia, esse amor que acalma o coração, te abraça enquanto dorme, te sorri com os olhos, te dá segurança sem te tirar do eixo antes. Não, não amo menos. É ainda mais amor. É duas vezes amor, na verdade: é aprender a amar o outro e amar a si mesma, porque você vê uma visão sua tão linda e única.

Eu não acreditava que você existia. Afinal, cadê o príncipe no cavalo branco? Ou o bonitão novo na cidade (vide Julia Quinn)? Nós esquecemos que amar é, antes de tudo, calmaria. É independência. É você se amar acima de tudo e ainda amar o outro e amar o que ele faz de você. É acordar e não se sentir ansiosa em ser perfeita para o outro, porque você já está segura do que você é. É rir sem moderação, é acordar descabelada, é sentir vontade de ter o outro ali (mesmo que apenas estejam juntos). É, no fim das contas, viver o que o amor de cinema/novela mexicana nos mostra, mas de uma forma muito mais feliz, mais calma.

Sei que falei muito e parece que você não sabia nada disso. Mas eu sei que você sabe. Eu sei, amor calmo, que todos os dias que eu acordo e te vejo e te sinto do meu lado, eu respiro o ar mais tranquila e sei que ali tenho uma família. Sei que as vezes nos desentendemos; afinal, ainda tem um pedaço enraizado em mim dessa menina que acreditava nos amores devastadores. Mas, apesar de todos os pesares, não trocaria nada do que você me proporciona por simplesmente precisar sentir possessão e medo (porque é isso, no fim das contas, que sentimos no caso dos amores tornados: medo de perder). Eu aproveito todos os dias, um por um, ao seu lado e quero, se puder, pedir pra você ficar sempre comigo. Não existe sensação melhor do que saber que tá tudo bem e que tem calmaria e tem amor e tem olhares bondosos.

Por isso, quero te agradecer. Quero agradecer ao universo a oportunidade de amar sempre e amar sem dores. Sei que nem sempre é fácil, mas estar na presença da sua calma me faz acreditar que posso escalar uma montanha e chegar no topo sorridente. E, por último, te desejo encontrar todos os corações desesperados por amar. Eu, que já fui um desses corações, acredito que todos merecem a chance de serem felizes com o outro e consigo mesmos em todos os momentos, principalmente na calmaria de um domingo de manhã, com um café bem quente na janela. Obrigada por ser.

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