Ser mulher é um ato de coragem.
Desde que eu me lembro por gente, eu me sinto mulher. Digo
isso no conceito de mulher que eu construí dentro de mim, por meio de todos os exemplos
que tive: mulher, pra mim, é, antes de mais nada, força; é conseguir carregar
um mundo nas costas e mesmo assim passar por rasteiras o tempo inteiro. Não se engane
ao pensar que não gosto de ser o meu eu mulher: eu amo! Amo ser esse tsunami de
emoções, de razões e de explosões.
E hoje, dia 8 de março, é um dia bem sensível para o meu eu
mulher. Eu te escrevo, cerne feminino do meu ser, para te dizer que eu entendo
o que é passar o dia afundada em contradições: ao mesmo tempo que eu me identifico
completamente com esse “título” biológico e de gênero, eu me sinto sem forças e
frustrada. Estamos no século XXI, mais exatamente no ano 21 desse século, e
mesmo assim me sinto vivendo no tempo das cavernas. Nossas lutas ainda soam
ilegítimas aos ouvidos daqueles que não querem ouvir e nossas vontades parecem
nulas para os que não querem ver. Ser mulher em 2021 é buscar reconhecimento, é
buscar igualdade e buscar, acima de tudo, seu lugar no mundo.
Sei que esse texto tá pesado para o dia que representa, mas
hoje, pela primeira vez, agradeci os “parabéns” pelo dia com um: hoje é só mais
um dia de luta. Estar viva num país em que mata mulheres por serem mulheres e
que tem governantes que expressam sua misoginia diariamente é uma vitória – uma
triste vitória. Hoje, agora, me sinto cansada; parece que essa “brincadeira” de
levar o mundo nas costas cansa.
E quando paro para analisar de onde vem essa força, só vem a
minha mente tanta mulher que passou pelo pior para que eu pudesse, no mínimo,
ter um pouco mais de conforto. Mas isso não é suficiente. E hoje, dia
internacional da mulher, fica tudo tão evidente. As redes sociais potencializam
e evidenciam tanto esse dia como puramente comercial e parece tirar tanto a importância
do que é ser mulher, da potência que uma mulher tem. E isso, mesmo que eu me
esforce que não, me entristece. E todos os dias eu consigo, na medida do possível,
passar por cima disso e ser uma mulherão da porra (internamente), mas hoje
ficou tudo muito cansativo.
Era pra ser um texto para o meu eu mulher. Acredito que essa
parte seja a que eu tenha mais orgulho em mim. E essa parte também chama tantas
outras mulheres incríveis, tantas outras almas que completam a minha forma de
ser. No fundo, o meu eu mulher é quase que uma rocha, mas que tem um interior
líquido que hoje só se derrama.
Que 2021 seja um ano para que o meu eu mulher cresça, lute,
ensine e que em 2022, nessa mesma data, o interior líquido da rocha que eu sou
esteja cada vez maior, mais forte, mais potente e mais ainda mulher.