sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Carta às minhas "grandes" histórias de amor

Eu cresci vendo grandes histórias de amor. Talvez não tão grandes (as que li tanto nos livros da adolescência), mas sempre fui uma romântica nata pelas grandes histórias de amor. Cresci vendo pais que estavam sempre juntos (e sem saber dos perrengues que podiam existir - e certeza que existiam. Qual vida adulta não tem mil e um perrengues?) e por isso busquei sempre minha grande história de amor. Talvez esse fosse o erro: buscar a história de amor. Grandes histórias nos encontram, batem na nossa porta (ou, até mesmo, arrombam nossa porta, nossos corações, e nos fazem engolir goela abaixo aquilo) e simplesmente acontecem. 


Aos 10 anos ganhei meu primeiro "Diário da Princesa": uma história misto de descobertas na vida de uma adolescente com o início de uma história de amor. No segundo livro, quando a história romântica se concretiza de fato, me lembro de chorar como se fosse comigo. Meu coração pulsava, quase saia pela boca, de tanta emoção que aquilo me passava. E assim comecei a devorar livros (sejam quaisquer o assunto, mas os preferidos sempre foram os romances). Era - talvez - uma necessidade absurda de sempre reviver aquelas emoções dos protagonistas, de amores impossíveis e finais felizes completamente improváveis. A cabeça de uma pré-adolescente é uma coisa conturbada, definitivamente.


Só que eu cresci uma pessoa apaixonada pelo amor. E digo amor não só o sentido romantico da palavra, mas o amor de um modo geral. Eram músicas de amor/sofrimento amoroso (perdi as contas de quantas vezes cantei "Devolva-me" da Adriana Calcanhoto e sofri com aquele fim de relacionamento que nunca existiu), livros e mais livros, filmes (te desafio a encontrar uma comédia da década de 2000 não vista por mim ainda), mas a realidade se tornou algo tão diferente daquilo que eu sempre almejei e busquei. 


Chega a adolescência e a rebeldia me pegou com força (sim, já quis ser punk só por amar Legião Urbana e achar que era cool seguir os passos do Aborto Elétrico - a banda que deu origem ao Legião). O amor agora devia ser uma chacota, uma coisa de gente fraca, que não sabe o que quer. Eu sabia o que eu queria: queria mais uma paixão boba (eu tive tantas- platônicas - durante a infância/adolescência que nem sei quantas foram), queria o frio na barriga, queria aquele fim de livro da Meg Cabot, em que tudo é perfeito, que as pessoas são completamente opostas, mas são complementares. Ah, como era bom sonhar. Apesar de todos os problemas sociais/de autoestima que tive durante praticamente toda a vida, uma coisa que eu nunca deixei de me permitir foi de me apaixonar, de procurar um amor "desses de cinema". 


Só que a vida adulta real chegou. E ai começou um período de grande decadência. O fim da adolescência (vamos falar ai dos 18 anos, porque acho que até hoje, quase nos 30, ainda continuo uma adolescente) foi uma explosão de sentimentos incríveis, de um relacionamento real e utópico e, poucos anos depois, motivo para chorar com minha amada MPB. Minha avó que o diga, que fala que eu cantava sofrido, de coração partido (lembrando que já é sofrido ouvir eu cantando, imagina de coração partido). Mas assim foi: a primeira queda do cavalo, violenta, com sequelas a longo prazo. Quando a gente é jovem, sente as coisas numa intensidade que hoje vejo que de saudável só tinha a cara de romances dos filmes. Foi então que comecei um longo, tortuoso, dificil e demorado caminho em busca de amor próprio.


É engraçado pensar, a essa altura do campeonato, que apenas comecei a me preocupar com o amor mais importante de todos quando uma paixão me fez quebrar a cara. Me vi em um momento, quebrada em mil pedaços, mas (hoje vejo isso né) com a oportunidade de colar esses pedaços da forma que eu quisesse. E foram longos anos de terapia. Uma coisa que é triste desse momento, além da desesperança no amor romântico, foi o fato de eu ter parado de ler. Ver que aqueles amores dos livros, aquelas paixões, as faíscas, não eram pra mim, me doeu pra caralho. Doeu a ponto de parecer que tinha levado um soco no estômago. E ai veio as partes que os livros e filmes não mostram.


Hoje em dia até que temos mais "exemplos" na indústria do entretenimento/arte de pessoas se rescontruindo após tomar no c*, mas naquela época veio a solidão, a busca por algo que entendesse minha dor e meu sofrimento. Pode parecer exagero isso, mas é literalmente o que eu sentia: sofrimento, dor. 


Desde então muita coisa mudou. Alguns amores passaram por mim, por minha história e nenhum arrancou pedaços mais. Um inclusive ficou e está ai até hoje. É um amor de cinema, que faz o estomago até doer só de ver a pessoa? Não. Mas como uma frase que vi hoje: que bom, isso quer dizer que te traz paz. Isso é o que se chama maturidade. (Inclusive, já escrevi sobre o amor calmo, então sem mais delongas)


Mas por que eu escrevo isso numa noite de quinta-feira? Porque acabei de ver mais uma série sobre amor. Estou na fase do vício completo por séries italianas, que guardam tanta coisa especial pra mim (quem me conhece, sabe do meu fascínio desde de muito nova pela Itália). E foi uma série que falou de tantos tipos de amores (inclusive de amores adolescentes, amor familiar e amor próprio). E trouxe de volta aquela Isabella apaixonada pelo amor, por amar. E veio só na minha cabeça: por que eu não faço mais coisas que amo? Por que valorizo tão pouco meu amor próprio em prol do amor alheio (vamos dar destaque as amizades, porque quem me conhece sabe que eu me doou mil %)? Então aqui estou eu, fazendo algo que amo (escrever), falando de algo que amo (o amor) e cogitando seriamente a escrever mil histórias de amor (me perdoe os que são cult, mas amo um clichê). Eu vivo minha história de amor real, que tem lá seus mil perrengues (como todas histórias de amor real. Não existe na vida real aquele amorzinho de livros, perfeito - até mesmo porque eu não sou esse personagem), mas acho que preciso de inventar mil histórias malucas, mirabolantes, irreais, para me sentir a Isabella de 10 anos, que passava todos os recreios da escola lendo sobre o amor.

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Um comentário:

  1. Como amo ler o que você escreve! São histórias escritas com o coração!

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