Talvez eu esteja falando muito de amor; a primavera
incita isso nos românticos natos, como eu. E, talvez, depois de tanto conversar
com uma amiga que roubou um belo lugar no camarote da vida, eu tenha chegado a
alguma conclusão sobre você, verdadeiro amor.
Antes de qualquer coisa, querido verdadeiro amor,
quero declarar meu apreço profundo por você: não sei como um sentimento tão
puro possa ser tão complexo e possa preencher tanto espaço dentro do nosso
vazio existencial. E como você, apesar de todos os pesares, está aqui o tempo
todo... Venho hoje então falar de duas formas suas que tem muito me intrigado:
o verdadeiro amor próprio e o verdadeiro amor romântico.
Não sei o porquê de ser de uma geração de pessoas tão
obcecadas com o amor que vem do outro: o primeiro amor, o mais honesto e puro,
que podemos ter é o nosso próprio. Eu percebi que não me amava tanto quando não
sabia mais quem eu era: era um tanto quanto desesperador olhar no espelho e não
me conhecer tão bem (e olha que passo, literalmente, 24 horas por dia comigo).
Até que, um belo dia, comecei a tirar um tempo meu pra fazer coisas pra mim.
Ai, meu querido amigo, eu vi como você é de verdade: é aquela presença que, no
início é tímida, mas logo conquista todo o espaço; é simples e quente; e, acima
de tudo, diz tudo sobre quem eu sou. Confesso que colocar o meu blog no ar foi
um gesto tão amoroso da minha parte, por simplesmente compartilhar com o mundo
(ou com ninguém, como achei por um tempo) algo que faço simplesmente por fazer,
sem motivação ou cobrança: por puro amor verdadeiro.
Essa história de amor parece tão clichê que, muitas vezes,
optamos pode deixar ela de lado. Em um tempo que nada parece valer a pena, já
que tudo tem data de expirar, parece que se amar ficou cafona. Se sim, quero
ser muito cafona sempre. E tudo isso, principalmente, porque é necessário se
amar antes de deixar que outra pessoa te ame. Sim, para o outro te amar, ele
precisa ter certeza que ama alguém por inteiro; e só se é por inteiro quando
todos os pedaços quebrados, todas as emendas tortas estão preenchidas com o
mais belo e puro amor próprio. Piegas? Bastante. Mas simplesmente maravilhoso.
Ai entra aquela história de amar alguém. Poxa, como é difícil
amar alguém: se já é difícil nos amar, aceitando todos nossos acertos e erros,
imagina o outro, que não podemos fazer nada para mudar? E é ai que você se
torna protagonista, amor verdadeiro: como amar alguém, acima de tudo? Pra mim,
quando nós nos amamos por completo, nós paramos de aceitar os meios amores e
começamos a definir o que realmente queremos, para atrair isso; e isso vai até
que, um belo dia, nos esbarramos em alguém que valha a pena compartilhar a
vida, que te entenda, saiba respeitar o seu limite, te olhe com olhos bondosos,
tenha sua própria existência e compartilhe isso com você todos os dias, pelos
gestos mais simples. E isso tudo é amar o outro também, não cobrando nada ou
exigindo e só existindo. Claro que isso leva algum tempo: nossa vida não é como
os filmes, em que tudo acontece em 2 horas – vai do inferno ao céu e tudo fecha
com um final feliz. As coisas levam tempo e coisas como você, querido amigo,
valem a pena esperar.
Apesar de tudo isso, sei como é difícil permitir você aqui;
como já disse para o seu primo torto, meio amor: todos nós, seres humanos, já
esbarramos por coisas que estavam mascaradas de coisas verdadeiras, mas que
eram, na verdade, uma bela de uma emboscada. E viver esses momentos de decepção
faz com que criemos barreiras que parecem instransponíveis, mas que só parecem.
Eu achei uma saída até bastante útil pra isso: a liberdade. Como diria o meu
filósofo predileto, Sartre, o ser humano é essencialmente livre. Imagine só,
querido amor verdadeiro, o que é isso: tirando a parte problematizadora disso,
é a liberdade que nos torna quem somos e não existe nada mais livre, para mim,
do que o poder de amar. E esses poder, assim como diversas outras coisas, é
exercitável: ninguém nasce amando o mundo ou a si mesmo; é necessário um
esforço para exercer a liberdade de amar. As crianças, seres mais puros e
livres, exercem essa liberdade com uma maestria inspiradora: amam sem pudor.
Por isso, querido amor verdadeiro, te escrevo hoje. Às
vezes parece que nos esquecemos de você, mas estou convicta de que isso não
passa de uma aparência. Sei que é necessário, acima de tudo, que nos amemos
como nunca antes; e, com isso, nós deixamos um espaço pra alguém que queira
acrescentar algo, que queira, de fato, dividir a vida. E tudo isso, todo esse
amor, acontece por um único motivo: porque sim. Não existe explicação, mas tudo
faz sentido. Na minha humilde opinião, não somos seres que nascemos para viver eternamente
na solidão e ter com quem dividir a vida plenamente é uma dádiva que só a
liberdade pode trazer. Hoje, mais do que nunca, quero me tornar de novo uma
criança: quero amar – me amar, principalmente - sem freios, sem pudores, sem
medos e, acima de tudo, livre.
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