segunda-feira, 3 de abril de 2017

Carta à não decisão

Escutei a vida toda que librianos são indecisos. Não sei se isso ficou impregnado no meu inconsciente, mas como uma boa libriana sou indecisa. Tenho dificuldade em escolher coisas simples, como qual caminho pegar e qual comida escolher em um restaurante (amigos mais íntimos sabem da minha mania de ficar 2 horas com o cardápio em mãos e não escolher nada). E isso não é um problema – não, isso não é uma tentativa de justificar minha quase ausência de decisões banais –, mas você, indecisão, não pode prejudicar o fluir da vida e as pessoas ao nosso redor.

Vou tentar me explicar melhor: convivo diariamente com pessoas que simplesmente não sabem escolher e isso acaba influenciando todos. O fato de eu ter problemas para decidir qual prato pedirei em um restaurante é bem diferente de eu não tomar decisões que envolvem alguém (ou “alguens”) ou mesmo que impeçam o caminhar dos dias. Nesse ponto da história, querida amiga, eu começo minhas longas – e, às vezes, tediosas – reflexões.

A minha geração, em geral, é aquela de pessoas entre 20 e 30 anos que simplesmente são postas a pressões constantes da sociedade, permeadas por expectativas sufocantes. Nisso, conclui que o medo de decepcionar os outros, de não cumprir essas tão famigeradas expectativas, leva a tomada de decisões inconclusivas, indefinidas, ou seja, indecisões. Somos a geração que tudo temos, mas pouco somos. Por isso, creio eu, que é mais fácil nos apoiarmos nos seus ombros calorosos e tão conhecidos, indecisão, do que nos arriscarmos em erros.

Eu mesma sou uma autora (em estado gestacional) que me amparo em você frequentemente. Esse texto é uma indecisão para mim, porque fico imaginando pessoas lendo e detestando (apesar de me inspirar bastante na maravilhosa Clarice Lispector, ainda não tenho a autoconfiança de escrever apenas para o meu ego), assim como todos os sete outros que comecei e não passei do segundo parágrafo. É fácil ser indeciso, mas, ao mesmo tempo, é uma das coisas mais difíceis que se pode existir, estabelecendo uma dicotomia. A insegurança, que está em estado simbiótico com o medo e você, querida amiga, é aquele sentimento que mais causa ansiedade e desespero de ser quem somos. E é nesse ponto que somos extremamente prejudicados por escolhermos a não decisão.

As relações interpessoais também estão se apoiando muito nessa ideia que você carrega por onde passa. O medo de nos entregarmos a uma situação nos deixa incessantemente indecisos, o que provoca no outro sofrimento (e, creio eu, esse não é objetivo de vida para ninguém). Não que seja errado ter indecisões, como já te disse, mas elas simplesmente não podem paralisar e impedir que as coisas fluam e aconteçam no seu tempo e hora.

Sim, querida amiga, você está presente em lugares onde não deveria. A sua presença, muitas vezes, me paralisou. O medo dos erros, infelizmente, sobrepôs a necessidade deles para futuros acertos e nisso você tem uma grande parte da culpa. Mas te escrevo agora como uma espécie de aviso prévio: sua função, a partir de agora, está apenas na escolha de cardápios, roupas e outras coisas triviais. Afinal, só se vive uma vez e eu prefiro um livro de erros, com diversos capítulos extensos e jocosos, do que um livro que conte apenas o que era para ter sido, mas não foi. Por isso, querida amiga, respeite essa decisão – que foi tomada depois de muitas horas de sofrimento em sua presença – e aceite que não estou de dispensando, mas sim te colocando em seu devido lugar.


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